1-INTRODUÇÃO.
Stonehenge,
o famoso círculo de pedras localizado a sudoeste da Inglaterra, foi erigido
por um povo há muito esquecido, que não deixou vestígios escritos ou
registros formais. Ninguém sabe como tal obra era chamada pelos construtores
originais, nem mesmo como se nomeava esta comunidade.
Não
existe nada igual em parte alguma. Foi construído antes do surgimento de
qualquer cidade, do desenvolvimento da escrita, e muito antes de qualquer estado
ou rei ter se estabelecido. Quem teria projetado tal estrutura, como e por que são
algumas das perguntas que fascinam a todos. Representa um lampejo de uma era que
se foi.
Testemunha
concreta de um passado místico, repleto de mistérios, Stonehenge
foi palco de cerimônias complexas e ritos mitológicos elaborados.
Integrando diversos elementos conceituais no mesmo projeto, os
mestres-construtores demonstraram possuir pleno domínio nas ciências da
Arquitetura, Geometria e Astronomia, muito antes da eclosão das culturas egípcias
e mesopotâmicas. Alguns conceitos matemáticos como o valor de Pi, que seria
estabelecido 2.500 anos mais tarde por Pitágoras, foram utilizados no projeto
original. Também incorporaram, com ajuda dos sacerdotes, valores simbólicos
que formariam a base de vários sistemas religiosos e doutrinários.
Recentes
estudos arqueológicos começam a esclarecer o que passava pelas mentes dos
antigos habitantes da região ao construírem tão imponente obra, uma das mais
significativas manifestações da capacidade humana de expressar idéias através
de edificações.
O
que surge deste conjunto de descobertas começa a intrigar os espíritos dos
modernos adeptos das práticas esotéricas. Ao desvendar parte dos enigmáticos
segredos de Stonehenge percebemos que adentramos em um universo rico em
elementos arquetípicos e mitológicos, criados para desbravar alguns dos mais
tortuosos labirintos psíquicos da alma humana.
Incrivelmente,
grande parte do que tem emergido à superfície nos parece familiar. A antiga
doutrina e liturgia desta era parecem reverberar solenemente em vários aspectos
de nossas Sessões Ritualísticas, em pleno século XXI, estabelecendo uma forma
inesperada de conexão mística. Tal fenômeno sugere que o Simbolismo Maçônico
contemporâneo e o universo mágico da Grã Bretanha ancestral seriam partes da
mesma ciência, da mesma alquimia misteriosa, que tendo surgido em uma época
remota permaneceria viva e operante até os dias atuais.
Esta
poderosa especulação, que contorce as dimensões de tempo e espaço da tradição
histórica de nossa Sublime Fraternidade, representa mais um capítulo a ser
desbravado em nossa longa jornada de aprendizado.
2-
TEMPLOS SIMBÓLICOS.
Na
aurora do Homem, quando os grandes questionamentos sobre a existência
floresceram, o espírito indômito dos primeiros especuladores incentivou a
eclosão de uma revolução criativa que marcaria a Humanidade para sempre.
Uma
nova maneira de encarar o universo, como algo mais do que a mera realidade visível,
se cristalizava nas mentes dos poderosos magos do passado. Esta perspectiva
inovadora da realidade levou ao surgimento de magníficas obras, na tentativa de
elaboração concreta destes dramas que passavam a afligir a alma humana.
Surgiam,
assim, os primeiros templos, as primeiras catedrais.
A
palavra “templo” se deriva do latim templum.
Refere-se a uma edificação dedicada ao serviço religioso ou transcendental.
Rizzardo da Camino define tal conceito de forma similar, como sendo o local onde
se cultua uma divindade. Os egípcios os consideravam as “mansões dos deuses”
ou os lugares mortuários, quando dedicados aos antepassados.
No
início eram espaços delimitados em meio às florestas ou cavernas. Neste período
os pensadores só tinham a abóbada celeste acima, as doze constelações como
colunas de sustentação em volta, a fraternidade no coração, o infinito nas
mentes e uma inquietação angustiante clamando pela compreensão plena dos
mundos – o visível e o oculto.
Na
fase seguinte, com a melhoria nas técnicas de Arquitetura, os pedreiros
ancestrais começaram a construir as primeiras estruturas dedicadas
exclusivamente aos cultos. Surgiram obras complexas, nas quais aquela realidade
natural que circundava os templos em meio às matas passava a ser retratada por
alegorias, metáforas e por uma série de símbolos que ainda hoje interagem
ativamente em nosso subconsciente.
Templos,
enquanto entidades físicas, e os símbolos, como instrumentos e método para
desenvolvimento dos trabalhos, tornaram-se figuras inseparáveis neste processo
de aprimoramento pessoal e filosófico a que nos propomos a partir do momento
que passamos a integrar uma sociedade esotérica. Esta conjunção se apresenta
claramente nas mais antigas fraternidades, como a ordem dos antigos mistérios
dos Essênios, das sacerdotisas de Inanna,
na Suméria, das Thesmophorias de Deméter,
em Atenas, das Vestais de Roma, e até
na enigmática ordem de Malek-Tsedeq
ou Melquisedec. Onde encontramos sinais da existência de um destes elementos,
certamente o outro estará em Pé e a Ordem, apesar de, às vezes, não
percebermos sua presença imediatamente.
No
caso específico das Oficinas Maçônicas, que são os espaços sagrados nos
quais são desenvolvidas nossas Sessões, tal magia certamente se faz presente.
Estas estruturas arquitetônicas, dedicadas aos grandes mistérios, possibilitam
uma identificação pessoal dos iniciados com todo simbolismo ali existente,
estabelecendo uma simbiose que transforma as metáforas em reflexos de nossa própria
persona enquanto seres que questionam
a si mesmos e toda existência.
As
figuras simbólicas operando entre Colunas são ferramentas psíquicas poderosas
que nos orientam em nosso longo aprendizado - a chamada jornada em busca do
autoconhecimento. Só sabendo exatamente quem somos podemos ter a esperança de
adentrar sutilmente no mundo do oculto, tateando os significados dos grandes
mistérios – como a sabedoria das religiões primordiais, os segredos do mundo
perdido, a compreensão da primeira trindade, a busca pela palavra perdida, o
enigma das grandes diferenciações e assim por diante. Os Templos com seus
signos representam nossa psique, os quatro planos do universo retratando o princípio,
o meio e o fim de tudo.
3-
STONEHENGE, A OBRA
Stonehenge,
do inglês arcaico stan = rochas, e hencg
= eixo, se localiza na planície de Salisbury, no sudoeste da Inglaterra, próximo
à cidade de Amesbury. A mais antiga referência a esta maravilha do mundo
antigo foi feita por Hecateu de Abdera,
em sua magnífica obra “História dos
Hiperbóreos”, datada de 350 a.C. Trata-se de um conjunto de pedras,
algumas com mais de 45 toneladas, agrupadas em um arranjo circular parcialmente
conservado. Integra um conjunto de obras erigidas pelas chamadas civilizações
megalíticas, surgidas na Europa a partir de 8.000 anos a.C. Estas comunidades
embrionárias, que conquistaram a Europa no final da última glaciação, começaram
a se fixar nas Ilhas Britânicas à medida que o gelo e frio recuavam, criando
um clima mais ameno, propício às culturas agrícolas.
Por
volta de 4.300 a.C. grandes levas de agricultores chegando do continente
passaram a se estabelecer na região. Tinham certa facilidade para se fixar,
pois dominavam técnicas de cultivo de trigo e de criação de gado, e
utilizavam instrumentos de pedras, ossos e cerâmica.
Logo depois, no período Neolítico superior, imigrantes da atual França
conquistaram a Planície, e em 2.500 a.C. comunidades vindas do Vale do Reno e
da Holanda chegaram. Estas últimas, também chamadas de Povo Beaker, tornaram-se
hegemônicas na área até 1.800 a.C. , quando foram sobrepujados por uma nova
cultura, denominada Wessex – que dominaria a maior parte da região.
Nesta
época floresceram vários cultos místicos, no contexto da citada eclosão
criativa. No final do 4o século a C. os antigos sacerdotes,
motivados por idéias e conceitos originais, começaram a construção de um
grande arranjo em forma circular, com quase cem metros de diâmetro. Era o início
da epopéia de Stonehenge, cujo processo de elaboração foi dividido, pelos
arqueólogos modernos, em três fases ou momentos distintos.
A
chamada 1ª FASE ( 3.100 a.C.) é
marcada pela construção da estrutura circular primordial. Constituída por
um grande morro redondo, com 97,54 m de diâmetro, era circundada
externamente por uma vala. Apresentando algumas descontinuidades e uma
“entrada” principal, logo foi preenchida por um arranjo circular com 56
troncos fixados no solo, chamado de “Círculo de Aubrey”, em homenagem ao seu descobridor.
Esta fase, só com o morro redondo e os troncos, durou apenas 50 anos.
Em
seguida entramos na 2ª FASE (3.000 a.C.).
Nesta etapa observamos, inicialmente, a colocação de 168 troncos fixados
no solo, dispersos pelo interior do círculo. Formavam a sustentação de uma
cobertura, com uma abertura no centro, por onde as pessoas podiam observar o céu
e que servia de saída para a fumaça das fogueiras. Foram realizadas
descobertas extremamente interessantes na vala circular, incluindo a identificação
de restos humanos cremados e objetos sagrados, localizados em pontos estratégicos.
Neste período foram criados outros círculos ritualísticos muito semelhantes a
Stonehenge, como o chamado Woodhenge, construído ao norte.
Na
última ou 3ª FASE (2.600 a.C.), registra-se
a remoção dos troncos e a chegada das chamadas Pedras
Azuis, trazidas das Montanhas Preseli
(País de Gales), localizadas a 160 km em linha reta. Os arquitetos elaboraram
dois semicírculos com estas enormes rochas, em forma de ferradura, um no
interior do outro, com a abertura em frente à entrada original do círculo.
Cerca de 80 peças compunham este arranjo. Um caminho, espécie de “avenida”,
formado por uma reta ladeada por duas valas paralelas, com cerca de 14 metros de
largura, foi confeccionado à entrada principal do círculo. Seu posicionamento
toma o ciclo solar como referencial, sendo exatamente alinhado com os raios
solares no poente do solstício de inverno, ou com o nascer do Sol no solstício
de Verão. Este caminho levava diretamente às margens do Rio Avon, o principal
curso de água da região
Todo
este espaço místico foi utilizado até o final do segundo milênio a.C. Por
volta de 1.100 a.C.o santuário foi abandonado. Não há consenso sobre os
motivos deste fato. Provavelmente, os cultos passaram a ser direcionados aos
rios e pântanos, e a poderosa catedral que operava em Pé e a Ordem há quase
2.000 anos se reduziu a um estado dormente, assim permanecendo por muitos séculos.
Em
1.918 alguns festivais e eventos esdrúxulos coordenados por sacerdotes ou
“druidas contemporâneos” começaram a atuar nas ruínas, realizando cerimônias
em que tentavam resgatar alguns conceitos do passado remoto. Em 1.985 o English
Heritage, órgão do governo inglês responsável pelo monumento, proibiu
tais celebrações.
4-
UNIVERSO SIMBÓLICO
Várias
teorias foram lançadas na tentativa de desvendar os objetivos que levaram à
construção de tão imponente obra. A utilização do sítio variava conforme a
época, uma vez que diferentes culturas dominaram a região, cada qual com
costumes e tradições distintas.
4.1-REPRODUZINDO
O UNIVERSO
Analisando
detalhadamente o projeto, na primeira fase, percebemos que toda estrutura,
principalmente o morro circular com as “falhas” ou descontinuidades poderiam
ser detalhes precisos de uma grande reprodução em escala, de alguma região
geográfica. Esta idéia de Stonehenge ser um mapa cartográfico estilizado foi
recentemente comprovada. Ao compararmos o arranjo com a conformação ambiental
da Planície de Salisbury, ao redor, vemos que a real intenção dos arquitetos
foi reproduzir a plenitude de seu mundo visível. Os 56 troncos representariam
as florestas, o morro elevado personificaria as montanhas ao longe, e a vala
seria o final do mundo, o horizonte amedrontador, o abismo do limite da
perspectiva que poderia “engolir” os aventureiros. No interior da estrutura
teríamos enclausurados os parâmetros da existência humana, com o céu
formando o “teto”, estando presentes o Sol, a Lua e as constelações do zodíaco.
O Rio Avon, que dava sustento a todas as comunidades da região, também se
mostra retratado no círculo. Seu curso sinuoso coincide exatamente com a existência
das entradas ou “falhas” no morro. Estabelecendo esta conexão, que é
cientificamente comprovada e facilmente observável, percebemos quantos enigmas
se apresentam apenas nesta primeira fase, que é considerada a mais
“primitiva” do processo de aprimoramento místico da comunidade.
Esta
preocupação em reproduzir o Universo conhecido também se mostra presente em
nosso Simbolismo. Sabemos que, entre Colunas, estamos situados sob a abóbada
celeste, tendo a infinitude dos pontos cardeais nos circundando, e as doze
colunas ou constelações do firmamento também se fazem presentes.
4.2-CÍRCULOS
Continuando
na primeira fase, notamos que os místicos primordiais manifestavam uma grande
fixação pelas formas circulares. Os círculos são expressões matemáticas
utilizadas desde o princípio dos tempos. Esta
perfeita forma geométrica estabelece diversas conexões arquetípicas na mente
humana, sendo elemento propulsor da vida em movimento. Representa a essência
dos mistérios da natureza. Faz o tempo se retorcer em si mesmo, orientando
todos pelos caminhos contínuos do reinício e fim constantes, tornam os pontos
de partida e de chegada coincidentes neste processo único de ser e existir,
livre das mitologias seminais cosmogônicas e escatológicas.
Os mais
antigos povos, de todas as culturas e locais do planeta dançavam
ritualisticamente em círculos, meditavam diante de formas circulares,
reverenciavam corpos celestes, percorriam labirintos e se sentavam em rodas elípticas
para orar. Os Celtas consideravam o tempo como sendo uma das triplas linhas da
existência, e o representavam como um círculo no qual todos os enigmas se
revelavam. Os Astecas veneravam as flores com forma circular, pois personificariam a
alegria e felicidade, além do ciclo solar diário e anual, com suas jornadas
eternas de nascimento e renovação. Os índios americanos da tribo Sioux
afirmam que toda fonte de poder do mundo se manifesta em círculos, como o céu,
as estrelas, o vento em forma de furacões, os ninhos dos pássaros e a própria
vida dos homens, da infância à morte.
Nossa
vida e ambiente são repletos de símbolos circulares ou espiralados. A íris
dos olhos, a forma dos rostos, o horizonte distante, a
Lua e o Sol se apresentam nesta forma – além das galáxias distantes e das
moléculas de DNA, síntese da vida. O próprio universo físico, com as
constelações, buracos negros e demais entes astronômicos, tem conformação
circular. Forma uma imensa “bolha” que deve interagir, de acordo com a física
quântica, com infinitos universos paralelos que também são arredondados.
Em nosso
mais profundo íntimo também vamos encontrar esta geometria.
Jung (1875-1961) dizia que o ponto mais central de nossa alma, o self, é um círculo. Por isso, ele o representou com
mandalas, que são figuras com várias formas geométricas em torno do
mesmo centro.
Para
a teoria do eterno retorno (Nietzsche, 1844-1900), segundo a qual tudo ocorre
infinitamente, ao longo do tempo, como uma perene repetição de todos os
eventos, o círculo também se recobre de profundo simbolismo. Não há outra
figura que melhor represente este ciclo infinito de experiências contínuas,
que devem ser moralmente justificáveis e “nobres” para que se perpetuem por
todo o sempre.
O
círculo, tal quais as formas essenciais da natureza, assume uma aura sagrada e
misteriosa. Tem infinitos lados e nenhum ao mesmo tempo. Neles se encontram o
princípio e o fim na mesma estrutura, fazendo referência à semente ou embrião
original e ao final escatológico, sem definir onde exatamente se posicionam.
Centraliza, portanto, as mais primitivas leis da natureza, os mais profundos
sentimentos de continuidade e a terrível inevitabilidade do “pêndulo do relógio”.
A
forma circular de Stonehenge, por si só, já representa uma profunda e complexa
comunhão dos universos simbólicos que fundamentam a cultura esotérica do
passado e a atual. Esta característica está presente na arquitetura de
diversas obras utilizadas por ordens iniciáticas, como as catedrais dos
Cavaleiros Templários, e em nossos templos - nos inúmeros símbolos que seguem
este traçado, como o círculo místico em torno do Altar dos Juramentos.
4.3-GIROS
RITUALÍSTICOS
Os
antigos sábios consideravam que movimento é sinônimo de vida. Os mortos
apresentam, como primeira e óbvia característica, a imobilidade corporal. Os
enfermos tendem a se recolher em repouso absoluto. A água, um dos quatro
elementos, para ser de boa qualidade deve ficar em constante movimento. Se
permanecer estagnada torna-se inadequada ao uso. O oposto da paralisia mórbida
e funesta é o movimento. Deste raciocínio surgem todos os cultos e festejos à
vida, à ressurreição e à renovação da natureza, carregados de danças, músicas
e alta dinâmica de movimentação. Em Stonehenge as celebrações eram
realizadas com grande volume de pessoas se movimentando ritualisticamente em
torno do eixo principal, que era o centro do culto, e provavelmente circulavam
no sentido horário.
Certamente
os participantes assumiam grande rigor na ordenação dos trabalhos, em relação
ao sentido de giro em volta do altar. Sabemos que quando giramos no sentido horário,
desejamos absorver a energia do universo, trazendo do macrocosmo todas as emanações
e influxos positivos. Caminhando no sentido anti-horário, levamos nossas
energias ao universo externo, tirando do microcosmo local e elevando as vibrações
ao infinito. No primeiro caso buscamos, metaforicamente, salvação a nós
mesmos, e no segundo oferecemos salvação aos outros.
Esta
é uma característica presente ainda hoje em nossas práticas ritualísticas,
notadamente em relação à circunvolução praticada Mestres de Cerimônias no
transcorrer das Sessões. A mesma liturgia e os significados sacramentados nos
cultos ancestrais da velha Inglaterra ainda se mostram presentes nos movimentos
regulares dos obreiros atuais.
4.4-
MITOS DE RESSURREIÇÃO
As
celebrações em Stonehenge ocorriam em datas específicas do calendário. A razão
para estas reuniões, nestes momentos determinados, se explica pela própria
arquitetura do monumento. O
perfeito alinhamento da entrada do morro circular e da “avenida” com os
raios solares no poente do solstício de inverno e na alvorada do solstício de
verão, e com a descida da Lua na posição mais meridional, a Sul Sudoeste,
comprova que ali ocorriam cultos devotados aos ciclos lunares e solares.
Na
noite do solstício de inverno (21 de dezembro) é celebrada a “morte” do
Sol, e o início – na manhã seguinte – da longa jornada rumo ao seu apogeu,
que ocorre no equinócio da primavera. O ciclo solar, tal como uma criança recém
nascida sob a égide da constelação de Virgo ou Virgem, se inicia neste dia,
trazendo as boas novas a todos - que seriam as perspectivas de renovação da
natureza e de toda vida, através das dádivas dos raios solares incidindo
gloriosamente sobre a mãe-terra. A longa noite de espera pelo renascimento do
astro-rei, por aquele que traz a vida, o sustento e toda renovação da natureza
ao longo das estações, era marcada por celebrações intensas, carregadas de
grande significado esotérico e transcendental.
A
Lua também teria um papel interessante neste universo metafórico. Foram
detectados restos de animais, cerâmicas e objetos diversos na vala, no ponto
exato, a Sul-Sudoeste onde ela desaparece no horizonte na última noite da fase
Cheia. Uma intrigante teoria sugere que nesta noite, ao visualizarem a Lua
descendo no horizonte, os magos posicionavam os corpos dos mortos sobre a pedra
“Altar”. Esta rocha, com tons claros que refletiam ao luar, criava um amálgama
visual entre sua imagem e a da Lua. As almas dos falecidos, em meio a esta fusão
mística, seriam carregadas juntamente com a Lua para o mundo da eternidade.
Sabemos que tal corpo celeste personifica uma dramática jornada mitológica,
“morrendo” ao final de cada ciclo e descendo ao mundo das trevas. Ali
permanece oculta por um breve período (três dias) e renasce espetacularmente
na terceira noite. Aqueles que “pegam carona” com a Lua, vencem a morte e
ressurgem triunfalmente, atingindo uma outra dimensão, uma nova vida em um
mundo além deste.
Toda essa saga representa o eterno retorno e o milagre da ressurreição.
Tal arquétipo foi exaustivamente incorporado por muitos sistemas religiosos
posteriores, como, por exemplo, no
culto ao deus-menino persa Mitra, na
epopéia de Hércules, na saga
descrita no Mahabharata daquele que é
considerado a oitava encarnação do deus Vishnu,
o semi-deus Mitra,
e na lenda de Ísis e seu filho divino, Hórus.
Em
nossa doutrina utilizamos como método e objeto de estudos diversas formas de
mitos de ressurreição/transformação. Destacamos o Tronco de Beneficência e
a própria lenda mater de nossa Sagrada Ordem, Hiram
Abif.
4.5
- CULTO AOS ANTEPASSADOS?
A
religião dos antigos britânicos seria um culto aos antepassados? Esta pergunta
foi uma das primeiras a serem formuladas pelos pesquisadores, no início do século
XIX. Várias vertentes religioso-filosóficas englobam este componente, e isto
também deveria ocorrer nas comunidades ancestrais da Europa. De acordo com esta
hipótese, recentemente lançada, toda estrutura de Stonehenge se relacionaria a
um complexo ritualístico mais amplo, abrangendo uma extensa área geográfica,
voltado ao culto dos mortos, a sua passagem para outra dimensão e seu posterior
renascimento. O círculo de pedras seria parte de um elaborado rito com vários
capítulos, que se iniciaria a exatos 3,2 quilômetros dali, em Woodhenge – o
outro círculo místico, feito em madeira. De sua única entrada sai um caminho
ou curso ladeado por monólitos – similar ao de Stonehenge – que leva às
margens do rio Avon. Esta “trilha” está precisamente alinhada com os
primeiros raios de Sol no solstício de inverno, ao contrário de Stonehenge que
se alinha com poente.
Os
arqueólogos estabeleceram uma intrigante relação entre estes dois círculos.
Faziam parte de um elaborado culto que atravessaria a noite e o dia inteiro, da
alvorada ao poente. Pessoas de toda região se dirigiriam inicialmente a
Woodhenge, no final da noite anterior aos solstícios de inverno, permanecendo
ali até a alvorada do dia seguinte. As edificações em madeira representam a
vida, a mortalidade, a finitude, ou seja, o
portal dos vivos. As celebrações ali desenvolvidas transcorriam com imenso
consumo de comida e bebida. A grande quantidade de dentes de porcos achados no
local, todos com nove meses de idade, comprova a idéia de que os eventos eram
realizados exatamente nos solstícios de inverno. Marcando o início da fase
seguinte do ritual, teríamos o nascer do Sol, com os primeiros raios incidindo
exatamente pela entrada do grande anel e na avenida, diretamente sobre o altar
de Woodhenge. As pessoas, então,
seguiriam rumo às margens do rio Avon, caminhando pela avenida ou caminho, com
o Sol orientando a marcha. Ali teriam contato com o elemento água, tal qual um
batismo ou uma purificação aos vivos e mortos. O cortejo, em procissão,
percorreria o curso do rio, até a altura de Stonehenge. Então, seguiriam a
outra “trilha”, ladeada por megálitos, seguindo até o conjunto de pedras.
Como já se finda o dia, o Sol agora se alinhava exatamente neste caminho.
Chegando a Stonehenge, havia a coroação da celebração, começando no poente
e transcorrendo por toda noite. Stonehenge simbolizaria o portal dos mortos - a
imortalidade e perenidade das rochas, frias, imutáveis, resistentes,
representam a eternidade. A entrada das almas nos reinos subterrâneos e seu
posterior renascimento glorioso, juntamente com o novo ciclo solar pós-solstício,
estaria garantida através deste rito.
5-
CONCLUSÃO
Como
legítimos inquisidores da Verdade - ou phree-messen,
conforme a tradição do antigo Egito – devemos atentar para a importância
histórica de Stonehenge no processo
de construção mística de nosso simbolismo. A maior parte da obra se desfez
nas intempéries dos tempos. Entretanto, a essência dos cultos primordiais que
ali se desenvolviam se manteve incólume à passagem das eras.
Os
povos surgiam e pereciam, mas os mitos fundamentais, as lendas magnas e todo
simbolismo desta era mística se cristalizaram de forma alquímica e inexorável
nas almas daqueles que voltavam suas mentes para além do mundo visível.
Seus
inúmeros significados, recentemente compreendidos, trazem conclusões
inesperadas e intrigantes. Os magos-arquitetos das eras ancestrais, que
projetaram tal monumento, determinaram ali as bases seminais do simbolismo esotérico
que fundamenta grande parte dos princípios das sociedades iniciáticas atuais.
Erigido
muito antes das primeiras iniciações no vale do Nilo e das celebrações a Elêusis,
Orfeu e Dionísio, e mais de 2.000 anos antes do surgimento do lendário rei
Salomão, o enigmático círculo de rochas pode ser considerado um legítimo
Templo Maçônico, que operava a plena força e vigor, de forma justa e perfeita,
de acordo com a ritualística primordial – que, basicamente, continua a mesma.
Ao
buscarmos a compreensão dos mistérios de Stonehenge, estamos, na realidade,
trilhando mais alguns degraus em busca de nossa própria identidade.
REFERÊNCIAS:
1-
Camino, Rizzardo D, “Dicionário Maçônico”, 1ª Edição, Editora
Madras, 2.006.
2-
Doucet, Friedich W., “O Livro de Ouro do Ocultismo”, 1ª Edição,
Ediouro Publicações, 1.990.
3-
Dyer, Colin , “O Simbolismo na Maçonaria”, 1ª Edição, Editora
Madras, 2.006
4-
Lomas, Robert, “Girando a chave de Hiram – Tornando a Escuridão Visível”,
1ª Edição, Editora Madras, 2.006.
5-
Meaden, Terence
“Stonehenge: the Secret of the Solstice”, 1ª Edição, Editora Souvenir,
1.997.
6-
Niel, Ferdinand “Stonehenge: Arqueologia do Templo Secreto” 1ª Edição,
Editora Hemus, 2.004.
7-
North, John D
“Stonehenge: A New Interpretation of Prehistoric Man and the Cosmos”, 2ª
Edição, Editora Free Press, 1.997.
8-
Souden, David
“ Stonehenge Revealed” 3ª Edição, Editora Facts on File, 1.998
Internet:
www.english-heritage.org.uk
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