A Maçonaria
Operativa, ou dos Construtores foi um período em que a Ordem Maçônica estava
diretamente ligada à arte da construção e que teve o seu apogeu no século XIII.
Também conhecida por Maçonaria de Ofício, resplandeceu na Idade Média, sob a
influência espiritual da Igreja.
A Europa
vivenciou, no período, efervescente demanda por construções de catedrais,
igrejas, abadias, mosteiros, conventos, palácios, basílicas, torres, casas
nobres, mercados e paços municipais. Pode-se afirmar que o continente possuía
grande abundância de monumentos e construções arquitetadas e executadas por
Maçons Operativos.
As principais
obras da época incluem, dentre outras, a famosa Notre Dame de Paris, as
Catedrais de Reims, de Estrasburgo, de São Pedro em Roma, de Sevilha, de Toledo,
a Abadia de Westminster, o convento de Monte Cassino e o Mosteiro da Batalha.
Os primeiros
documentos de grande importância para a Maçonaria – não por coincidência –
surgiram nessa época. A Constituição de York, o Manuscrito Régius, o Manuscrito
de Cooke, os Estatutos e Regulamentos da Confraria dos Talhadores de Pedra de
Estrasburgo, o Regulamento de 1663 ou Leis de Santo Albano, o Manuscrito Harley,
o Manuscrito de Schaw, o Manuscrito de Kilwinning, constituindo-se documentos
que viriam compor a Maçonaria Moderna e que ficaram conhecidos como as “Old
Charges”, denominação inglesa das Constituições Antigas.
As Old
Charges ou Antigas Obrigações ou Antigos Deveres são escritos
que se referem às Lojas e aos Regulamentos Gerais. Tais manuscritos ilustram os
deveres, os segredos, os usos e os costumes dos Maçons Operativos e se
constituem base da jurisprudência para a Maçonaria Moderna.
Credita-se o
surgimento das Old Charges ao século XIV, á Inglaterra, porém é da
Escócia que descendem as publicações dos primeiros documentos, a partir de 1600.
O número dos manuscritos, conhecidos e reconhecidos como autênticos, ultrapassa
130.
A importância
histórica das Old Charges reside no fato de terem sido
fundamentais para o florescimento de uma Maçonaria organizada, principalmente na
Inglaterra. Tal evento histórico ocorreu antes da fundação de um Sistema
Obediencial e concorreu de modo marcante para a estruturação da Maçonaria
Especulativa.
Alguns
estudiosos apontam a Carta de Bolonha como o documento mais antigo dentre as
Old Charges, entretanto, a esmagadora maioria dos pesquisadores afirma ser o
Manuscrito Régius, também conhecido como Manuscrito Halliwell,
grafado em inglês arcaico, com letras góticas sobre pele de carneiro,
verdadeiramente o mais antigo.
O Halliwell
compõe-se de 64 páginas, com 794 versos. Sua produção data da década de
1390, e teria sido cópia de um documento anterior. O autor é desconhecido, mas
seu local de origem é Worcester/Inglaterra, fundada em 407 DC, segundo o
historiador maçônico Wilhem Begemann.
Durante muito
tempo o Manuscrito Régius foi considerado um poema sobre obrigações
morais. Em 1840, todavia, estudos realizados por James Orchard Halliwell
Phillips – antiquário inglês não maçom – comprovaram tratar-se verdadeiramente
de um documento relativo à Maçonaria Operativa.
O trajeto
percorrido pelo manuscrito, até ser descoberto como documento maçônico, é um
tanto incerto. Especula-se que ele teria sido propriedade de vários antiquários
e colecionadores. Adquirido pelo Rei Carlos II, integrou o acervo da Biblioteca
Real. Em 1757, foi doado pelo Rei George II ao Museu Britânico e hoje se
encontra na Biblioteca Britânica, fazendo parte da Coleção Real de Manuscritos –
Royal Manuscript Collection.
O estudo das
Antigas Obrigações propicia ao Maçom o conhecimento de suas origens e uma
melhor visão de conjunto da instituição, revelando o que até então parecia
obscuro sobre questões relacionadas à Ordem Maçônica.
Os Antigos
Deveres compreendem a regulamentação da conduta moral dos maçons; os
juramentos e compromissos; o amparo para casos de doença ou desemprego; os
recursos à instância superior; o devotamento exigido para a obra a ser
edificada; as bases do Conselho de Família; e a transformação das Lojas em
grupos familiares maçônicos como instrumento racional de solução de problemas.
As Old
Charges também tratam da implantação de uma saudável organização familiar
como elemento básico para a aquisição de um bom e futuro obreiro; da prática do
Tronco de Beneficência ou de Solidariedade; do socorro aos maçons nos seus
problemas, inclusive com a Justiça; da polêmica questão sobre o “Livro da Lei”,
não aceito naquela época como um “Livro Sagrado”, mas tão somente como o “Livro
da Corporação”, ou seja, o Regimento da Oficina.
Tais documentos
antigos expressam grande religiosidade. Temia-se, naquele tempo, o inferno e é
por essa razão que a Maçonaria teve vários padroeiros, como Severo, Severiano,
Carpóforo, Vitorino (os Quatro Coroados), São Thomaz, São Luís, São Braz, Santa
Bárbara e São João, que permanece em alguns Ritos Maçônicos até os dias de hoje.
É importante salientar que ainda não havia citações sobre as Antigas
Civilizações, como a egípcia e a grega. Essa influência mística só viria
incorporar-se à Maçonaria no Renascimento.
No decorrer do
tempo, a arquitetura sofreu transformações e as corporações de ofício perderam o
monopólio do poder sobre artistas e construtores. No século XVII, quando os
segredos da arte de construir grandes obras chegaram ao domínio público, ocorreu
a desestruturação da Maçonaria Operativa. O seu declínio, contudo, teve início
no final do século XIII, quando a demanda por construção de catedrais e outras
obras de porte acursou arrefecimento considerável.
Outras forças
que concorreram para o enfraquecimento da Maçonaria Operativa: 1) a Guerra dos
Cem Anos (1337/1453) que marcou o fim do período construtivo, o nascimento do
estado nacional francês e a extinção do sistema feudal; 2) a endêmica peste
negra, responsável pela morte de um terço da população da Europa, que acarretou
elevação dos impostos, obrigando os Maçons a buscar, literalmente, aumento de
salário; 3) a redução do poder espiritual da Igreja Católica Romana.
A perda de
vitalidade da Maçonaria Operativa, contudo não provocou sua extinção. A maioria
dos estudiosos indica ter havido um período de ligação entre a Maçonaria
Operativa e Especulativa, porém, essa tese é contestada por alguns
historiadores.
No início do
século XVII, elementos estranhos às profissões manuais começaram a ser admitidos
nas Corporações. Um dos primeiros “Maçom Aceito” foi John Boswell, Lord de
Auschileck, que ingressou na Loja da Capela de Santa Maria, em Edimburgo, no ano
de 1600. Evidentemente as Corporações tiveram de modificar seus estatutos e
objetivos para que pudessem conviver, lado a lado, Maçons “Antigos”
(construtores) e Maçons “Aceitos” (nobres, professores, naturalistas,
eclesiásticos, etc.
Desse convívio
entre Maçons Operativos e Maçons Aceitos surgiu a Maçonaria Especulativa, dando
início à outra fase da Arte Real, que é praticada até os dias atuais.
A Maçonaria
Operativa deixou importantes contribuições à instituição Maçônica Especulativa,
tais como:
1)
Aprendizagem por meio de símbolos, lendas, mitos e alegorias;
2)
Reconhecimento interpessoal com uso de sinais, toques e palavras;
3)
Reunião dos Maçons em “Loja”, que, durante o período operativo, era uma
construção precária anexa à edificação na qual o Maçom trabalhava ao abrigo do
tempo e onde se guardavam as ferramentas. Algumas lojas acabavam se
transformando em alojamento de operários;
4)
Utilização simbólica dos instrumentos de trabalho dos Maçons Operativos, como o
Esquadro, o Compasso, o Nível, o Prumo, a Alavanca, a Régua, o Cinzel, o Martelo
e a Trolha;
5)
Uso do Livro da Lei;
6)
Emprego do Tronco de Beneficência ou de Solidariedade;
7)
A Cadeia de União;
8)
A regulamentação da conduta moral dos Maçons;
9)
O Conselho de Família;
10)
Auxílio entre os membros da Ordem;
11)
Reconhecimento da existência de Deus;
12)
As Batidas ou Baterias.
13) A Expressão “Tudo está Justo e Perfeito”:
•Na Maçonaria de
Ofício ou Operativa, os Vigilantes tinham o nome de ZELADORES.
•Eles é que
cuidavam da segurança e da perfeição das obras.
•Sempre que um
grupo de Obreiros ia reiniciar os trabalhos, o Mestre de Obras – Venerável de
hoje – ordenava que ambos (quando havia dois ou um só quando fosse o caso)
munidos de Nível e Prumo, fossem fazer um levantamento do que havia sido
construído no dia anterior. Após percorrerem a obra, esquadrinhando,
nivelando-a, eles retornavam ao Mestre e diziam que tudo estava “justo e
perfeito”, se fosse o caso. Da mesma maneira, antes do encerramento dos
trabalhos do dia, ambos executavam a mesma tarefa inicial e retornavam dizendo
que tudo estava “justo e perfeito”, se fosse também o caso e fechavam o canteiro
de obras.
•Hoje,
simbolicamente, os Vigilantes deixam os seus altares, empunhando seus Malhetes -
na posição de Rigor - isto é; segurando com a mão direita e encostando-o no
ombro esquerdo formando assim uma esquadria com o braço, e, com o Malhete
formando uma outra esquadria.
•Nessa posição,
ambos, percorrem suas Colunas verificando se todos os presentes na Coluna do Sul
e do Norte são Maçons prestando atenção na posição de cada Obreiro. Podendo,
assim, corrigir a posição de um pé, de um braço ou de um sinal incorreto.
•Depois retornam
a seus altares e dizem ao Venerável Mestre que “Tudo está Justo e Perfeito” em
suas Colunas.
Com
o estudo da Maçonaria Operativa, o Maçom Moderno, irá entender melhor essa
grande engrenagem que move a Ordem Maçônica. Tomará consciência de que recebeu
uma herança de grande valia e passará a dar maior importância ao trabalho do
Maçom Operário. Ademais, naquela época, o Maçom já tinha o seu valor reconhecido
pelo patrão ou pelo mestre da obra. Vejamos o exemplo, nas Guildas:
As guildas eram
associações municipais com finalidade de auxílio mútuo surgidas na Idade Média,
formadas por operários, negociantes, artistas, artesões, marceneiros, tecelões,
sapateiros, vidraceiros, ferreiros, padeiros, maçons (construtores), dentre
outros.
O Maçom era um
dos profissionais mais bem pagos na Idade Média, chegando a ganhar até três
vezes mais que outros. Apesar de bem remunerado, ele era analfabeto e detinha
pouco conhecimento sobre o mundo que o cercava. Por isso, a catequese
empreendida pela Igreja era baseada em símbolos e os vitrais das grandes
catedrais o comprovam.
O estudo da
Maçonaria Operativa lança luz às origens da Ordem Maçônica, ou seja, de que, em
realidade, a Maçonaria Moderna procede dos antigos construtores de igrejas e
catedrais, corporações formadas sob a influência da Igreja na Idade Média. Essa
assertiva, não invalida, contudo, a tese de que outras agremiações também
contribuíram na composição de sua estrutura filosófica e simbólica.
O entendimento
de que a origem da Maçonaria “se perde na noite do tempo” é destituído de senso
e não encontra respaldo em estudos históricos de comprovação científica.
A seguir o
exemplo dos Maçons Operativos, que construíram as grandes catedrais, os Maçons
atuais devem seguir construindo Grandes Catedrais Internas para o seu próprio
benefício e Glória ao Grande Arquiteto do Universo. Enquanto o Maçom Operativo
construía os grandes templos na dimensão espaço, o Maçom atual deve construir na
dimensão tempo, por meio da simbologia e dos conceitos herdados, o Grande Templo
Ideal que é o homem integrado e em harmonia com a sociedade.
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