Review of Freemasonry



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Lucas Francisco Galdeano MAÇONARIA OPERATIVA: A ORIGEM DA ARTE REAL
pelo Poderoso Irmão Lucas Francisco GALDEANO
Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente do Distrito Federal (2007-2015)
Presidente do Conselho Maçônico Distrital (2007-2015)
Venerável Mestre da Loja “Universitária-Verdade e Evolução” nº.3492 do Rito Moderno (2003-2007)
ex-Venerável da Loja Miguel Archanjo Tolosa nº.2131 do R.E.A.A.(1991-1993)
ex-Grande Secretário Geral de Educação e Cultura do Grande Oriente do Brasil (1993-2001)
Presidente do Conselho Editorial do Jornal Egrégora - Órgão Oficial de Divulgação do Grande Oriente do Distrito Federal.

A Maçonaria Operativa, ou dos Construtores foi um período em que a Ordem Maçônica estava diretamente ligada à arte da construção e que teve o seu apogeu no século XIII. Também conhecida por Maçonaria de Ofício, resplandeceu na Idade Média, sob a influência espiritual da Igreja.

A Europa vivenciou, no período, efervescente demanda por construções de catedrais, igrejas, abadias, mosteiros, conventos, palácios, basílicas, torres, casas nobres, mercados e paços municipais. Pode-se afirmar que o continente possuía grande abundância de monumentos e construções arquitetadas e executadas por Maçons Operativos.

As principais obras da época incluem, dentre outras, a famosa Notre Dame de Paris, as Catedrais de Reims, de Estrasburgo, de São Pedro em Roma, de Sevilha, de Toledo, a Abadia de Westminster, o convento de Monte Cassino e o Mosteiro da Batalha.

Os primeiros documentos de grande importância para a Maçonaria – não por coincidência – surgiram nessa época. A Constituição de York, o Manuscrito Régius, o Manuscrito de Cooke, os Estatutos e Regulamentos da Confraria dos Talhadores de Pedra de Estrasburgo, o Regulamento de 1663 ou Leis de Santo Albano, o Manuscrito Harley, o Manuscrito de Schaw, o Manuscrito de Kilwinning, constituindo-se documentos que viriam compor a Maçonaria Moderna e que ficaram conhecidos como as “Old Charges”, denominação inglesa das Constituições Antigas.

As Old Charges ou Antigas Obrigações ou Antigos Deveres são escritos que se referem às Lojas e aos Regulamentos Gerais. Tais manuscritos ilustram os deveres, os segredos, os usos e os costumes dos Maçons Operativos e se constituem base da jurisprudência para a Maçonaria Moderna.

Credita-se o surgimento das Old Charges ao século XIV, á Inglaterra, porém é da Escócia que descendem as publicações dos primeiros documentos, a partir de 1600. O número dos manuscritos, conhecidos e reconhecidos como autênticos, ultrapassa 130.

A importância histórica das Old Charges reside no fato de terem sido fundamentais para o florescimento de uma Maçonaria organizada, principalmente na Inglaterra. Tal evento histórico ocorreu antes da fundação de um Sistema Obediencial e concorreu de modo marcante para a estruturação da Maçonaria Especulativa.

Alguns estudiosos apontam a Carta de Bolonha como o documento mais antigo dentre as Old Charges, entretanto, a esmagadora maioria dos pesquisadores afirma ser o Manuscrito Régius, também conhecido como Manuscrito Halliwell, grafado em inglês arcaico, com letras góticas sobre pele de carneiro, verdadeiramente o mais antigo. 

O Halliwell compõe-se de 64 páginas, com 794 versos. Sua produção data da década de 1390, e teria sido cópia de um documento anterior. O autor é desconhecido, mas seu local de origem é Worcester/Inglaterra, fundada em 407 DC, segundo o historiador maçônico Wilhem Begemann.   

Durante muito tempo o Manuscrito Régius foi considerado um poema sobre obrigações morais. Em 1840, todavia, estudos realizados por James Orchard Halliwell Phillips – antiquário inglês não maçom – comprovaram tratar-se verdadeiramente de um documento relativo à Maçonaria Operativa.

O trajeto percorrido pelo manuscrito, até ser descoberto como documento maçônico, é um tanto incerto. Especula-se que ele teria sido propriedade de vários antiquários e colecionadores. Adquirido pelo Rei Carlos II, integrou o acervo da Biblioteca Real. Em 1757, foi doado pelo Rei George II ao Museu Britânico e hoje se encontra na Biblioteca Britânica, fazendo parte da Coleção Real de Manuscritos – Royal Manuscript Collection.

O estudo das Antigas Obrigações propicia ao Maçom o conhecimento de suas origens e uma melhor visão de conjunto da instituição, revelando o que até então parecia obscuro sobre questões relacionadas à Ordem Maçônica.

Os Antigos Deveres compreendem a regulamentação da conduta moral dos maçons; os juramentos e compromissos; o amparo para casos de doença ou desemprego; os recursos à instância superior; o devotamento exigido para a obra a ser edificada; as bases do Conselho de Família; e a transformação das Lojas em grupos familiares maçônicos como instrumento racional de solução de problemas.

As Old Charges também tratam da implantação de uma saudável organização familiar como elemento básico para a aquisição de um bom e futuro obreiro; da prática do Tronco de Beneficência ou de Solidariedade; do socorro aos maçons nos seus problemas, inclusive com a Justiça; da polêmica questão sobre o “Livro da Lei”, não aceito naquela época como um “Livro Sagrado”, mas tão somente como o “Livro da Corporação”, ou seja, o Regimento da Oficina.

Tais documentos antigos expressam grande religiosidade. Temia-se, naquele tempo, o inferno e é por essa razão que a Maçonaria teve vários padroeiros, como Severo, Severiano, Carpóforo, Vitorino (os Quatro Coroados), São Thomaz, São Luís, São Braz, Santa Bárbara e São João, que permanece em alguns Ritos Maçônicos até os dias de hoje. É importante salientar que ainda não havia citações sobre as Antigas Civilizações, como a egípcia e a grega. Essa influência mística só viria incorporar-se à Maçonaria no Renascimento.

No decorrer do tempo, a arquitetura sofreu transformações e as corporações de ofício perderam o monopólio do poder sobre artistas e construtores. No século XVII, quando os segredos da arte de construir grandes obras chegaram ao domínio público, ocorreu a desestruturação da Maçonaria Operativa. O seu declínio, contudo, teve início no final do século XIII, quando a demanda por construção de catedrais e outras obras de porte acursou arrefecimento considerável.

Outras forças que concorreram para o enfraquecimento da Maçonaria Operativa: 1) a Guerra dos Cem Anos (1337/1453) que marcou o fim do período construtivo, o nascimento do estado nacional francês e a extinção do sistema feudal; 2) a endêmica peste negra, responsável pela morte de um terço da população da Europa, que acarretou elevação dos impostos, obrigando os Maçons a buscar, literalmente, aumento de salário; 3) a redução do poder espiritual da Igreja Católica Romana.

A perda de vitalidade da Maçonaria Operativa, contudo não provocou sua extinção. A maioria dos estudiosos indica ter havido um período de ligação entre a Maçonaria Operativa e Especulativa, porém, essa tese é contestada por alguns historiadores.

No início do século XVII, elementos estranhos às profissões manuais começaram a ser admitidos nas Corporações. Um dos primeiros “Maçom Aceito” foi John Boswell, Lord de Auschileck, que ingressou na Loja da Capela de Santa Maria, em Edimburgo, no ano de 1600. Evidentemente as Corporações tiveram de modificar seus estatutos e objetivos para que pudessem conviver, lado a lado, Maçons “Antigos” (construtores) e Maçons “Aceitos” (nobres, professores, naturalistas, eclesiásticos, etc.

Desse convívio entre Maçons Operativos e Maçons Aceitos surgiu a Maçonaria Especulativa, dando início à outra fase da Arte Real, que é praticada até os dias atuais.

A Maçonaria Operativa deixou importantes contribuições à instituição Maçônica Especulativa, tais como:

1)                 Aprendizagem por meio de símbolos, lendas, mitos e alegorias;

2)                 Reconhecimento interpessoal com uso de sinais, toques e palavras;

3)                 Reunião dos Maçons em “Loja”, que, durante o período operativo, era uma construção precária anexa à edificação na qual o Maçom trabalhava ao abrigo do tempo e onde se guardavam as ferramentas. Algumas lojas acabavam se transformando    em alojamento de operários;

4)                 Utilização simbólica dos instrumentos de trabalho dos Maçons Operativos, como o Esquadro, o Compasso, o Nível, o Prumo, a Alavanca, a Régua, o Cinzel, o Martelo e a Trolha;

5)                 Uso do Livro da Lei;

6)                 Emprego do Tronco de Beneficência ou de Solidariedade;

7)                 A Cadeia de União;

8)                 A regulamentação da conduta moral dos Maçons;

9)                 O Conselho de Família;

10)             Auxílio entre os membros da Ordem;

11)             Reconhecimento da existência de Deus;

12)              As Batidas ou Baterias.

            13)             A  Expressão “Tudo está Justo e Perfeito”:

•Na Maçonaria de Ofício ou Operativa, os Vigilantes tinham o nome de ZELADORES.

•Eles é que cuidavam da segurança e da perfeição das obras.

•Sempre que um grupo de Obreiros ia reiniciar os trabalhos, o Mestre de Obras – Venerável de hoje – ordenava que ambos (quando havia dois ou um só quando fosse o caso) munidos de Nível e Prumo, fossem fazer um levantamento do que havia sido construído no dia anterior. Após percorrerem a obra, esquadrinhando, nivelando-a, eles retornavam ao Mestre e diziam que tudo estava “justo e perfeito”, se fosse o caso. Da mesma maneira, antes do encerramento dos trabalhos do dia, ambos executavam a mesma tarefa inicial e retornavam dizendo que tudo estava “justo e perfeito”, se fosse também o caso e fechavam o canteiro de obras.

•Hoje, simbolicamente, os Vigilantes deixam os seus altares, empunhando seus Malhetes - na posição de Rigor - isto é; segurando com a mão direita e encostando-o no ombro esquerdo formando assim uma esquadria com o braço, e, com o Malhete formando uma outra esquadria.

•Nessa posição, ambos, percorrem suas Colunas verificando se todos os presentes na Coluna do Sul e do Norte são Maçons prestando atenção na posição de cada Obreiro. Podendo, assim, corrigir a posição de um pé, de um braço ou de um sinal incorreto.

•Depois retornam a seus altares e dizem ao Venerável Mestre que “Tudo está Justo e Perfeito” em suas Colunas.

 

 Com o estudo da Maçonaria Operativa, o Maçom Moderno, irá entender melhor essa grande engrenagem que move a Ordem Maçônica. Tomará consciência de que recebeu uma herança de grande valia e passará a dar maior importância ao trabalho do Maçom Operário. Ademais, naquela época, o Maçom já tinha o seu valor reconhecido pelo patrão ou pelo mestre da obra. Vejamos o exemplo, nas Guildas:

As guildas eram associações municipais com finalidade de auxílio mútuo surgidas na Idade Média, formadas por operários, negociantes, artistas, artesões, marceneiros, tecelões, sapateiros, vidraceiros, ferreiros, padeiros, maçons (construtores), dentre outros.

O Maçom era um dos profissionais mais bem pagos na Idade Média, chegando a ganhar até três vezes mais que outros.  Apesar de bem remunerado, ele era analfabeto e detinha pouco conhecimento sobre o mundo que o cercava. Por isso, a catequese empreendida pela Igreja era baseada em símbolos e os vitrais das grandes catedrais o comprovam.

O estudo da Maçonaria Operativa lança luz às origens da Ordem Maçônica, ou seja, de que, em realidade, a Maçonaria Moderna procede dos antigos construtores de igrejas e catedrais, corporações formadas sob a influência da Igreja na Idade Média. Essa assertiva, não invalida, contudo, a tese de que outras agremiações também contribuíram na composição de sua estrutura filosófica e simbólica.

O entendimento de que a origem da Maçonaria “se perde na noite do tempo” é destituído de senso e não encontra respaldo em estudos históricos de comprovação científica.

A seguir o exemplo dos Maçons Operativos, que construíram as grandes catedrais, os Maçons atuais devem seguir construindo Grandes Catedrais Internas para o seu próprio benefício e Glória ao Grande Arquiteto do Universo. Enquanto o Maçom Operativo construía os grandes templos na dimensão espaço, o Maçom atual deve construir na dimensão tempo, por meio da simbologia e dos conceitos herdados, o Grande Templo Ideal que é o homem integrado e em harmonia com a sociedade.



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