“De
fato, é um laurel da Maçonaria Brasileira a Pluralidade de Ritos,
porque o exercício de Ritos Regulares faz com que a nossa
Obediência abrigue, generosamente,
as várias correntes Filosóficas e Doutrinárias do Mundo Maçônico, desde o
Agnosticismo até o Teísmo. Seria um atentado à História e à Justiça se, em
obediência a imposições ilegítimas e alienígenas, criássemos agora obstáculos
aos Ritos”
(Álvaro
Palmeira, Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil - 1963/1968).
1
– A Gênese dos Ritos
Conceituamos
rito como sendo um cerimonial próprio de um culto ou de uma sociedade,
determinado pela autoridade competente; é a ordenação de qualquer cerimônia
e, por extensão, designa culto, religião ou seita. Maçonicamente é a prática
de se conferir a Luz Maçônica a um profano, através de um cerimonial próprio.
Em seiscentos anos de Maçonaria documentada, uma imensidade de ritos surgiram.
Mas, de 1356 a 1740, existiu um rito apenas, ou melhor um sistema de cerimônias
e práticas, ainda sem o título de Rito, que normatizava as reuniões maçônicas.
Somente a partir de 1740 é que uma infinidade de ritos varreu o chão maçônico
da Europa. Para evitar heresias, um Rito deve ter conteúdo que consagre algumas
exigências bem conhecidas: o símbolo do Grande Arquiteto do Universo, o Livro
da Lei, o Esquadro e o Compasso sobre o altar dos juramentos, sinais, toques,
palavras e a divisão da Maçonaria Simbólica em três graus. Não há nenhum
órgão internacional para reconhecer ritos. Acima do 3º Grau, cada Rito
estabelece sua própria doutrina, hierarquia e cerimonial.
Um
rito maçônico, usando simbolismo próprio, é um grande edifício. Deve ter
projeto integrado, dos alicerces ao topo. Cada rito possui detalhes peculiares.
A linha maçônica doutrinária, em cada Rito, deve ser contínua, dos graus
simbólicos aos filosóficos. Cada Rito é uma Universidade doutrinária.
2
– Os Ritos praticados no Brasil
Conforme
observamos, existem muitos Ritos Maçônicos praticados em todo o mundo. No
Brasil, especificamente, são praticados seis, alguns deles reconhecidos e
praticados internacionalmente e outros com valor apenas regional. São eles, o Rito Schröeder ou Alemão (pouco praticado no Brasil), o
Rito Moderno ou Francês, o Rito
de Emulação ou York (o mais praticado no mundo), o Rito Adonhiramita, o Rito
Brasileiro e o Rito Escocês Antigo e
Aceito (o mais praticado no Brasil).
O
RITO SCHRÖEDER foi criado por Friedrich Ludwig
Schröeder que, ao lado de Fessler, foi um dos reformadores da Maçonaria alemã.
De acordo com o prefácio do ritual editado em 1960 pela Loja “ABSALON ZU DEN
DREI NESSELN” (Absalão das Três Urtigas), Schröeder introduziu o rito em
sua Loja a 29 de junho de 1801 e esse rito, desde logo, conquistou numerosas
Lojas em toda a Alemanha e em outros países onde passou a ser praticado,
principalmente por maçons de origem alemã. É um rito muito simples e
trabalha, como o de York, apenas na chamada “pura Maçonaria” ou seja, na
dos três graus simbólicos, já que não possui Altos Graus. No Rito Schröeder
a expressão “Grande Arquiteto do Universo” é usada no plural – “Grande
Arquiteto dos Universos (G. A.DD.UU.).
O
RITO MODERNO, criado em 1761, foi reconhecido pelo
Grande Oriente da França em 1773. A partir de 1786, quando um projeto de
reforma estabeleceu os sete graus do rito – em contraposição ao emaranhado
dos Altos Graus da época -, ele teve grande impulso espalhando-se por toda a
França, pela Bélgica, pelas colônias francesas e pelos países
latino-americanos, inclusive pelo Brasil. Já no início do século XIX, o Grande
Oriente do Brasil – primeira Obediência brasileira – foi fundada em
1822, adotando o Rito Moderno, antes do Rito Escocês que só seria introduzido
em 1832. Em 1817 houve a grande reforma doutrinária que suprimiu a
obrigatoriedade da crença em Deus e da imortalidade da alma, não como uma
afirmação do ateísmo, mas por respeito à liberdade religiosa e de consciência,
já que as concepções religiosas de uma pessoa devem ser de foro íntimo, não
devendo ser impostas. O Grande Oriente da França, que acolheu a reforma, queria
demonstrar com isso o máximo de escrúpulos para com os seus filiados,
rejeitando toda e qualquer afirmação dogmática. Essa atitude provocou uma rápida
reação da Grande Loja Unida da Inglaterra que rompeu com o Grande Oriente da
França. O caso envolveu não apenas uma questão doutrinária como ainda político-religiosa.
O
RITO YORK é considerado bastante antigo. A Grande
Loja de Londres, durante muito tempo após a sua fundação, teve uma influência
muito limitada, pois a grande maioria das Lojas britânicas continuava a
respeitar as antigas obrigações, permanecendo livres sem aderir ao sistema
obediencial. O centro de resistência à Grande Loja era a antiga Loja de York,
de grande tradição operativa e que dava aos membros da Grande Loja o título
de “Modernos”, enquanto eles próprios se autodenominavam “Antigos”,
pelo respeito às antigas leis. O que os Antigos censuravam nos Modernos era a
descristianização dos rituais, a omissão das orações e da comemoração dos
dias santos, contrariando assim os mandamentos da Santa Igreja (Anglicana). O
cisma entre os Antigos e Modernos durou até 1813, quando as duas Grandes Lojas
fundiram-se formando a Grande Loja Unida da Inglaterra, que adotava o Rito dos
Antigos de York. A Constituição desse Supremo Órgão foi publicada em 1815. O
rito não possui Altos Graus, tendo além dos três simbólicos, uma quarta
etapa designada de “Real Arco”, que é considerada uma extensão do
Mestrado. O Rito de York, por ser teísta, está mais ligado aos países onde os
cultos evangélicos predominam, pois o clero desses cultos tem dado à Maçonaria
o apoio e o suporte necessário para a sua evolução e crescimento.
O
RITO ADONHIRAMITA nasceu de uma polêmica entre
ritualistas em torno de Hiram Abif, chamado de ADON-HIRAM (Senhor Hiram)
e
ADONHIRAM, o preposto das corvéias, depois da construção do Templo de Jerusalém,
de acordo com os textos bíblicos. O rito, depois de uma época de grande difusão,
acabou desaparecendo. Todavia, no Brasil (onde foi o primeiro rito praticado),
ele permaneceu, fazendo com que o país seja hoje o centro do rito, que teve
seus graus aumentados de treze para trinta e três. O Rito Adonhiramita é deísta.
O
RITO BRASILEIRO teria sido criado em 1878, em
Pernambuco, mas tem sua existência legal a partir de 23 de dezembro de 1914,
quando foi publicado o Decreto nº. 500, do então Grão-Mestre do Grande
Oriente do Brasil, Lauro Sodré, fazendo saber que, em sessão do Conselho Geral
da Ordem havia sido aprovado o reconhecimento e incorporação do Rito
Brasileiro entre os que compunham o Grande Oriente do Brasil. Depois o Rito
desapareceria, para ressurgir em 1940 e novamente em 1962, praticamente
desaparecer, até que em 1968, o Decreto nº. 2.080, de 19 de março de 1968, do
Grão-Mestre Álvaro Palmeira, renovava os objetivos do Ato nº. 1617 de 3 de
agosto de 1940, como o marco inicial da efetiva implantação do Rito
Brasileiro. A partir daí, o rito teve grande crescimento no país.
O
RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO, Começou
a nascer na França, quando Henriqueta de França, viúva de Carlos I,
decapitado em 1649, por ordem de Cromwell, aceitou do Rei Luís XIV asilo em
Saint-Germain-en-Laye, para lá se retirando com seus regimentos escoceses e
irlandeses e os demais membros da nobreza, principalmente escocesa, que passaram
a trabalhar pela restauração do trono, sob a cobertura das Lojas, das quais
eram membros honorários, o que evitava que os espiões de Cromwell pudessem
tomar conhecimento da conspiração.Consta que Carlos II, ao se preparar para
recuperar o trono, criou um regimento chamado de Guardas Irlandeses, em 1661.
Esse regimento possuía uma Loja, cuja constituição dataria de 25 de março de
1688 e que foi a única Loja do século XVII cujos vestígios ainda existem,
embora os stuartistas católicos devam ter criado outras Lojas. O termo “escocês”,
já a partir daquela época, não designava mais uma nacionalidade, mas o
partido dos seguidores dos Stuarts, escoceses em sua maioria. Assim, após a
criação da Grande Loja de Londres, em 1717, existiam na França dois ramos maçônicos:
a Maçonaria escocesa e stuartista, ainda com Lojas livres, e a inglesa com
Lojas ligadas à Grande Loja. A Maçonaria escocesa, mais pujante, resolveu, em
1735, escolher um Grão-Mestre, adotando o regime obediencial, o que levaria à
fundação da Grande Loja da França (Grande Oriente de 1772), embora esta
designação só apareça em 1765. O escocesismo, na realidade, só se
concretizou com a introdução daquilo que seria a sua característica máxima,
os Altos Graus, através de uma entidade denominada “Conselhos dos Imperadores
do Oriente e do Ocidente”. Este Conselho criou o Rito de Héredom, com 25
graus, o qual, incorporado ao escocesismo, deu origem a uma escala de 33 graus,
concretizada do primeiro Supremo Conselho do Rito em todo mundo. O REAA, por ter
sido um rito deísta, não foi unanimemente aceito nos países onde predominavam
as Igrejas Evangélicas e vicejou mais nos países latinos onde predomina o
Catolicismo. É necessário explicar que atualmente o caráter deísta do Rito
Escocês Antigo e Aceito misturou-se ao teísmo, sendo que este acabou sendo
predominante. O REAA tem o mesmo forte caráter teísta do Rito de York.
3
– Conclusão: A Unidade na
Diversidade
A
Maçonaria se caracteriza pela diversidade e sempre admitiu a pluralidade de
ritos. O Sistema do Rito Único, caso existisse, não seria um bom sistema. A
Ordem reuniu sistemas diversos formando uma unidade superior, perfeitamente
caracterizada que é a Doutrina Maçônica. A Maçonaria convive com muitos
ritos, uns teístas, outros deístas sem esquecer os agnósticos. Afinal, há
muitas maneiras de se relacionar com Deus. Mas há um detalhe: o maçom não
pode ser ateu. Em decorrência deste ecletismo, as manifestações maçônicas
disseminadas no mundo ao longo do tempo, apresentam-se com grande diversificação,
havendo Unidade na Diversidade. É
possível que a máxima “E PLURIBUS UNUM” (A Unidade na Diversidade),
inscrita no listel que envolve a parte superior do Selo dos EUA seja de origem
maçônica. Afinal, todos os chamados “pais da pátria” daquele país foram
maçons, a começar por George Washington.
Referências
Bibliográficas:
1.
CASTELLANI, José. Curso Básico de
Liturgia e Ritualística. Londrina, Ed. “A TROLHA”, 1991;
2.
FARIA, Fernando de. Rito Brasileiro
de Maçons Antigos, Livres e Aceitos. “O SEMEADOR” nº 8 (2ª fase) Jul-Dez
1990;
3.
OLIVEIRA, Arnaldo Assis de.
Escocesismo. Trabalho para aumento de salário no Ilustre Conselho de Kadosch nº
22, 1992;
4.
“EGRÉGORA” nº. 1/Jul-Ago 1993;
nº. 2/ Set-Nov 1993; nº. 3/Dez 93-Fev 1994; nº. 4/Mar-Mai 1994; nº.
5/Jun-Ago 1994.
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