Review of Freemasonry



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ALQUIMIA E A MAÇONARIA
pelo Ven.Irmão Lucas Francisco GALDEANO

Venerável Mestre da Loja “Universitária-Verdade e Evolução” nº.3492 do Rito Moderno (2005-2007)
ex-Venerável da Loja Miguel Archanjo Tolosa nº.2131 do R.E.A.A.(1991-1993)
ex-Grande Secretário Geral de Educação e Cultura do Grande Oriente do Brasil (1993-2001)
Presidente do Conselho Editorial do Jornal Egrégora - Órgão Oficial de Divulgação do Grande Oriente do Distrito Federal.


 Podemos afirmar que o maçom tem contato com a Alquimia nos primeiros momentos em que, como candidato, tem contato com a Ordem. A Câmara de Reflexões indiscutivelmente é um legado alquimista, a sua "decoração" com os elementos água, enxofre e sal, que acrescida do mercúrio são substâncias que constituem a Prima Matéria da Alquimia. A Alquimia é estudada sob três aspectos diversos, suscetíveis de interpretações distintas, e que são: o cósmico, o humano e o terrestre. Elas são representadas pelas três propriedades alquímicas: enxofre, mercúrio e sal. Muitos autores afirmam que há três, sete, dez e doze procedimentos respectivamente, porém, todos concordam em que há apenas um único objetivo na Alquimia, que é a transmutação em ouro dos metais mais grosseiros. Porém, este é apenas um dos aspectos da Alquimia, o terrestre ou puramente material, pois, compreendemos logicamente que o mesmo processo seja executado nas entranhas da Terra. Contudo além desta interpretação, há na Alquimia um significado simbólico, psíquico e espiritual.

 

Como vimos o alquimista procura simbolicamente ouro, isto nada mais é do que o maçom procura, através da sua opus, transformar a pedra bruta em pedra polida, e que é o aprimoramento moral e espiritual do maçom. Enquanto o alquimista cabalista muitas vezes procura a realização do ouro material, o alquimista ocultista, desdenhando o ouro das minas, volta toda a sua atenção e concentra todos os seus esforços na Divina Trindade do homem que, quando, finalmente se fundem, formam apenas um.

 

Os planos espiritual, mental, psíquico e físico da existência humana são comparados, em Alquimia, aos quatro elementos: fogo, ar, água e terra, e cada um deles é suscetível de uma constituição tripla, a saber: fixa, variável e volúvel. Aqui temos também um outro elo entre a Maçonaria e a Alquimia, mas precisamente nas três viagens que o recipiendário é obrigado a fazer acrescido da prova da Terra que simbolicamente, é a Câmara de Reflexões, a que nos referimos' anteriormente.

 

A Maçonaria vê na prova do AR (primeira viagem com seus ruídos e trovões) a representação do segundo elemento primordial que com seus meteoros e contínuas flutuações é o emblema da vida, sujeito as contraditórias variações. Na Alquimia o AR é trabalhado através da operação sublimatio. Ela transforma o material em ar por meio de sua elevação e volatilização. O termo "sublimatio" vem do Latim Sublimis, que significa elevado. Isso indica que o aspecto essencial do Sublimatio é um processo de elevação por intermédio do qual uma substância inferior se traduz numa forma superior mediante um movimento ascendente.

 

Na Maçonaria a água é o oceano e este é um símbolo do povo, a cujos serviços dedicam-se os verdadeiros maçons. Os homens são as gotas do vasto oceano da humanidade, de que as nações são partes.

 

Na Alquimia a água é a Prima Matéria, idéia que os alquimistas herdaram dos pré-Sócrates. Pensam os alquimistas que uma substância não poderia ser transformada sem antes ter sido reduzida à Prima Matéria. A água é trabalhada através da operação Solutio, esta provoca o desaparecimento de uma forma e o surgimento de uma nova forma regenerada. No poema abaixo, escrito por Lao Tse, a Maçonaria fala a mesma linguagem que a Alquimia, quando tratam de água:

 

"O menor dos homens é como a água.

A água a todas as coisas beneficia

E com elas não compete.

Ocupa os (humildes) locais visto por todos com desdém

Nos quais se assemelha ao Tao

Em sua morada (o Sábio) ama a (humilde) terra

Em seu coração ama a profundidade

Em suas relações com os outros, ama a gentileza

Em suas palavras, ama a sinceridade

No governo ama a paz

No trabalho, ama a habilidade

Em suas ações ama a oportunidade

Porquanto não quere-la

Vê-se livre de reparos."

 

O quarto elemento, o fogo, também une os propósitos dos dois colégios. Para a Maçonaria o fogo cujas chamas sempre simbolizam aspiração, fervor e zelo deve lembrar ao iniciado que este deve aspirar a excelência e a verdadeira glória e trabalhar com dedicação nas causas empenhadas, principalmente as do povo, da pátria e da ordem.

 

 Para o alquimista o fogo é tratado na operação calcinatio. Eis porque toda imagem que contém o fogo Livre queimando ou afetando substâncias se relaciona com a calcinatio. O fogo da calcinatio é um fogo purgador, embranquecedor. Atua sobre a matéria negra, a nigredo, tomando-a branca. Diz Basil Valentine: "Deves saber que isso (a calcinatio) é o único meio correto e legítimo de purificar nossa substância." Isso a vincula ao simbolismo do purgatório. A doutrina do purgatório é a versão teológica da calcinatio projetada na vida depois da morte.

 

Morte, um tema muito caro para os maçons e alquimistas. Na Maçonaria a morte é tratada de forma muito especial, na Lenda de Hiram que perpassa vários graus da Escada de Jacó. O maçom conhece muito bem estas palavras:... o pó volte a Terra e o espírito volte a Deus que o deu...

 

Para o alquimista a morte também é um processo, uma continuação que faz parte do trabalho da coagulatio. Esta pertence ao elemento Terra, e costuma ser seguida por outros processos, em geral pela mortificatio e pela putrefactio. Aquilo que se concretizou plenamente ora se acha sujeito à transformação. Tornou-se uma tribulação, que chama à transcendência. Eis como podemos entender as palavras do apóstolo Paulo ao vincular o corpo e a carne à morte: "Quem me libertará do corpo desta morte?... Porque, se vivemos na carne, morreremos; mas se por meio do espírito, mortificarmos os feitos do corpo, viveremos... Porque aquele que vive segundo a carne inclina-se para as coisas da carne. A inclinação da carne é a morte; mas a inclinação do espírito é a vida e paz”.

 

A identificação do corpo e da carne com a morte deve-se ao fato de que tudo aquilo que nasce no plano espaço-temporal deve submeter-se às limitações dessa existência, que incluem um fim a morte. Esse é o preço do ser real. Uma vez plenamente coagulado ou encarnado, o conteúdo torna-se sem vida, sem maiores possibilidades de crescimento. Emerson exprime essa idéia: "Somente a vida é beneficio, e não a ter vivido. A força cessa no instante do repouso; ela reside no momento da transição de um estado passado para um novo, na voragem do abismo, no arremesso contra o alvo. Eis um fato que o mundo abomina. O fato de a alma vir a ser porquanto isso degrada o passado, tornando todos os bens em pobreza, toda reputação em vergonha, confundindo o santo com o velhaco, varrendo Jesus e Judas para longe, sem distinção.” Realizada a plena coagulatio, vem a putrefactio. Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no espírito do espírito ceifará a vida eterna. Um texto alquímico trata do mesmo tema: o leão, o sol inferior pela carne se corrompe... Assim, o leão tem corrompida a natureza por meio da sua carne, que segue os ritmos da lua, e é eclipsada. Porque a lua é a sombra do sol, e com o corpo corruptíveis é consumida; e, por meio da destruição da lua, o leão é eclipsado com auxílio da umidade de mercúrio; o eclipse não obstante, é transmutado tomando-se útil e de melhor natureza, e ainda mais perfeito do que o primeiro.

 

Em vários graus da Maçonaria o crânio é uma peça importante tanto na representação do grau como na ornamentação do templo para o ritual do grau. Pois bem, na alquimia o crânio como momento mori é um emblema da operação da mortificatio. Ele produz reflexões a respeito da mortalidade pessoal de cada um e serve como pedra de toque para os valores falsos e verdadeiros. Refletir sobre a morte pode nos levar a encarar a vida sob perspectiva da eternidade e, desse modo, a negra cabeça da morte pode transformar-se em ouro. Com efeito, a origem e o crescimento da consciência parecem estar vinculados de maneira peculiar à experiência da morte. Talvez o primeiro par de opostos a penetrar na consciência em vias de despertar dos seres humanos primitivos tenha sido o contraste entre o vivo e o morto. E provável que somente a criatura mortal seja capaz de ter consciência. Nossa mortalidade é nossa fraqueza mais importante e derradeira. E essa fraqueza, segundo C. G. Jung, foi o elemento que colocou Jó em vantagem diante de IAHWEH.

 

Esta palavra é muito significativa em alguns graus da Escola Filosófica da Maçonaria (REAA). IAHWEH é o nome da Divindade expressa no Antigo Testamento do Livro Sagrado. Para o alquimista IAHWEH redime e purifica pelo fogo sagrado, daqueles que passaram pela calcinatio: "Não temas, porque eu te resgatei, eu te chamei pelo teu nome, és meu. Quando passares pelo mar, estarei contigo; quando passares pelos rios eles não te submergirão. Quando passares pelo fogo, a chama não te atingirá e não te queimarás. Pois eu sou IAHWEH, teu Deus, o Santo de Israel, teu Salvador.

O Juízo final pelo fogo corresponde à provação pelo que testa a pureza dos metais e lhes retira todas as impurezas. Há inúmeras passagens do Antigo Testamento que usam metáforas para descrever os testes que IAHWEH submete seu povo eleito. Por exemplo, IAHWEH diz: "Voltarei minha mão contra ti, purificarei as tuas escórias no cadinho, removerei todas as impurezas." (Isa., 1:24,25)

 

"E eis que te pus na fogueira como a prata, testando-te no cadinho da aflição. Por causa de mim mesmo e só por mim mesmo, agi - deveria meu nome ser profanado? Jamais darei minha glória a outro." (Isa.,48;10,11)

 

"Eu os levarei ao fogo, e os purificarei como se purifica a prata, e os testarei como se testa o ouro. Eles invocarão meu nome e eu escutarei, respondendo: Eis o meu povo; e todos dirão IAHWEH é meu Deus.” (Zacarias 13:9)

 

O fogo purifica e santifica a matéria bruta e corrompida, os maçons e alquimistas sabem disso, no entanto, o fogo da Senda Sinistra mata e regride a evolução que o ser procura na sua existência. Este fogo nada mais é do que a luxúria, a inveja e ira. Nesta categoria temos a ira que moveu Nabucodonosor, ao destruir o Templo de Salomão. Ele personifica o motivo do poder, a autoridade arbitrária do ego inflamado, que passa pela calcinatio quando suas pretensões irresistíveis são frustradas pela presença da autoridade transpessoal. Nabucodonosor corresponde ao rei alquímico, que serve de alimento ao lobo e depois é calcinado

 

 



Conclusão:

 

A Maçonaria e os maçons com as suas alegorias de construção, como ferramentas: trolha, esquadro, compasso, régua, maço, cinzel; materiais como tríplice argamassa, de forma alguma querem dar a entender que queiram construir algum prédio material - quando assim o querem contratam uma firma especializada - mas sim a construção de um Templo Espiritual à Divindade Maior, o Grande Arquiteto do Universo. É a procura do auto-conhecimento para purificar o ente de cada obreiro, e a partir daí construir a morada do Espírito Santo como falam os cristãos. Essa construção maçônica percorre vários patamares (Escada de Jacó) e à medida que o maçom vai galgando os seus degraus (os graus maçônicos) ele tem um compromisso com a Lei do Karma de estar mais santificado que no patamar anterior. Da mesma forma o alquimista no seu trabalho de manipulação das substâncias não quer dizer que ele queira conseguir ouro material. Alquimia é a ciência pela qual as coisas podem não ser decompostas e recompostas (como se faz em química), mas também sua natureza essencial pode ser transformada e elevada ao mais alto grau ou ser transmutada em outra.

 

A química trata apenas da matéria morta, enquanto a Alquimia emprega a vida como fator. Todas as coisas têm natureza tríplice, da qual sua forma material e objetiva é sua manifestação inferior. Assim é que, por exemplo, há ouro espiritual, imaterial; ouro astral etéreo, fluído e invisível, e ouro terrestre, sólido, material e visível. Os dois primeiros são, digamos assim, o espírito e a alma do último e, empregando os poderes espirituais da alma, podemos produzir mudanças nele, a fim de que se, tornem visíveis no estado objetivo.

 

Certas manifestações exteriores podem ajudar aos poderes da alma em sua operação. Porém, sem os segundos, as manipulações serão totalmente inúteis. Portanto, os procedimentos alquímicos podem ser utilizados com êxito unicamente por aquele que é o alquimista nato ou por educação. Sendo todas as coisas de natureza tríplice, a Alquimia também apresenta um aspecto triplo. No aspecto superior, ensina a regeneração do homem espiritual, a purificação da mente e da vontade, o enobrecimento de todas as faculdades anímicas. No aspecto mais inferior trata das substâncias físicas e, abandonando o reino da alma viva e desvenda matéria morta. Termina na química de nossos dias. A Alquimia é um exercício do poder mágico da livre vontade espiritual do homem e, por esta razão, pode ser praticada apenas por aqueles que renascem espiritualmente.

 

Por último, passarei a palavra final aos alquimistas, ao citar, in toto, seu texto mais sagrado. A Tábua da Esmeralda de Hermes. Via-se esse texto “como uma espécie de revelação sobrenatural aos filhos de Hermes, feita pelo patrono e sua Divina Arte”. De acordo com a lenda, a tábua da Esmeralda foi encontrada no túmulo de Hermes Trismegistus,  por Alexandre o Grande, ou, em outra versão, por Sara, a esposa de Abraão. A princípio, só se conhecia o texto em latim, mas, em 1923, Holmyard descobriu uma versão árabe. É provável que um texto anterior tenha sido escrito em grego e, segundo Jung tinha origem alexandrina. Os alquimistas o tratavam com veneração ímpar, gravando suas afirmativas nas paredes do laboratório e citando-o constantemente em seus trabalhos. Trata-se do epítome críptico da opus alquímica, uma receita para segunda criação do mundo, o unus mundus

 

 

A TÁBUA DA ESMERALDA DE HERMES

 

1. Verdadeiro, sem enganos, certo e digníssimo de crédito.

2. Aquilo que está embaixo é igual àquilo que está em cima, e àquilo que está em cima é igual àquilo que está em baixo, para realizar os milagres de uma só coisa.

3. E, assim como todas as coisas se originam de uma só, pela mediação dessa coisa, assim também todas as coisas vieram dessa coisa, por meio da adaptação.

4. Seu pai é o sol; sua mãe, a lua; o vento a carregou em seu ventre; sua ama é a terra.

5. Eis o pai de tudo, a complementação de todo o mundo.

6. Sua força é completa se for voltada para dentro (ou na direção) da terra.

7. Separa a terra do fogo, o sutil do denso, com delicadeza e com grande ingenuidade.

 8. Ela ascendeu da terra para o céu, e desce outra vez para a terra, e recebe o poder do que está em cima e do que está embaixo. E, assim, terás a glória de todo o mundo. Desse modo, toda a treva fugirá de ti.

 9. Eis o forte poder da força absoluta; porque ela vence toda coisa sutil e penetra todo sólido.

10. E assim o mundo foi criado.

11. Daqui as prodigiosas adaptações, à feição das quais ela é.

12. E assim sou chamado HERMES TRISMEGISTUS, tendo as três partes da filosofia de todo o mundo.

13. Aquilo que eu disse acerca da operação do sol está terminado.

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

1)       Blavatsky, Helena P. Glossário Teosófico. São Paulo: Global Editora e Distribuidora

2)       Edinger, Edward F. Anatomia da Psique: O Simbolismo Alquímico da Psicoterapia

3)       Figueiredo, Joaquim Gervásio de Dicionário de Maçonaria. São paulo: Pensamento/1987

4)       Rituais do Grande Oriente do Brasil e do Supremo Conselho do Brasil para o Rito Escocês Antigo e Aceito ( R.·.E.·.A.·.A.·.).



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