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MONOGRAFIAS MAÇÔNICASpelo Ven.Irmão WILLIAM ALMEIDA DE CARVALHO 33GÊNESE E EXPANSÃO DOS SUPREMOS CONSELHOS DO R.E.E.A.
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O R.E.A.A aparece no mundo, como é praticado atualmente, com a constituição
do primeiro Supremo Conselho de Charleston em 31 de maio de 1801. O mundo maçônico
da época, basicamente europeu, não tomou o mínimo conhecimento, pois seria
como se hoje, em Cochabamba, na Bolívia (sem nenhum demérito para os IIrr\bolivianos)
se formasse uma nova instituição maçônica. Os europeus viam os
norte-americanos como chucros e selvagens, ou seja gente de país, diríamos
hoje, periférico. Coil[1],
na sua Enciclopédia, afirma que “pouco se conhece sobre os assuntos do
Supremo Conselho do Sul [pois os EEUU são o único país do mundo que possui
dois Supremos Conselhos: Jurisdição Sul e Norte] nos primeiros 50 anos de sua
existência”.
Em 4 de dezembro de 1802, uma circular – atrevida e demente, para não
dizer paranóica para a época - dava conhecimento ao mundo maçônico da criação
deste Conselho-Mãe em Charleston, Carolina do Sul, apelidado desde então de
Supremo Conselho dos Soberanos Grandes Inspetores Gerais, 33º e último grau do
Rito Escocês Antigo e Aceito. A circular afirmava pomposamente que em “31 de
maio, o Supremo Conselho dos Estados Unidos da América foi constituído em
grande pompa pelos IIrr\John
Mitchell e Frederico Dalcho e o pleno efetivo dos Grandes Inspetores Gerais
foram, no curso do presente ano, completado conforme as Grandes Constituições”.
Naudon[2],
no seu livro clássico, afirma que
“o Ir\John
Mitchell tomou o título de Soberano Grande Comendador deste Supremo Conselho e
o Ir\Dalcho,
o de Grande Comendador Adjunto. Os outros membros eram os Mui Ilustres IIrr\Emmanuel
de la Motta, Abraham Alexander, Major Th. Bartolomew Bowen, Israel de Lieben,
Dr. Isaac Auld, Moses C. Levy e o Dr. James Moultrie. O conde de Grasse-Tilly e
seu sogro Delahogue estavam entre os fundadores; permaneceram como membros até
a sua partida para São Domingos e antes que o efetivo de nove membros tivesse
sido completado”. Assim
como a maçonaria simbólica é regida pelas Constituições de Anderson, os
Supremos Conselhos o são pelas Grandes Constituições de 1786. Apesar de sua
importância, as Constituições de 1786 não foram redigidas por Frederico II,
da Prússia, conforme já demonstraram exaustivamente Lindsay[3],
Naudon[4],
Castellani[5],
Findel[6],
Kloss[7],
Mellor[8],
Prober[9],
Le Forestier[10], Chevallier[11],
Lantoine[12] e tantos outros que seria
enfadonho citar aqui. Contudo, uma grande parte dos maçons dos altos graus no
Brasil, por falta de conhecimento da moderna historiografia, continuam ainda
acreditando e jurando “de pés juntos” que as Constituições de 1786 foram
redigidas pelo rei prussiano. Um fato ponderável que concorreu para esta
mitologização foi o de que os EEUU, à época, não era nenhuma potência maçônica,
como veio a se tornar posteriormente, e necessitava de um forte aval para
legitimar o seu Supremo Conselho de Charleston para que não caísse no ridículo.
Nada melhor do que um rei europeu, um déspota esclarecido, com nítida simpatia
pela maçonaria para ser o autor das Constituições de 1786. Independentemente
de ser apócrifa a assinatura de Frederico II, as Constituições de 1786
constituem o corpo de leis que regem o R.E.A.A., e ao longo de pouco mais de 200
anos, esta Lei ficou corroborada pelo costume gerando uma permanente luta em
defesa da liberdade e do bem-estar social e do desenvolvimento moral, espiritual
e intelectual da humanidade.
O segundo Supremo Conselho criado no mundo foi o francês, em 1804, pelo
conde de Grasse-Tilly, personagem extremamente interessante, pois tinha estado
tanto na criação do Supremo Conselho das Índias Ocidentais francesas (criado
antes do de Charleston e também com 33 graus), onde era Soberano Grande
Comendador quanto do Supremo Conselho de Charleston, como visto acima, e no qual
figurava como Grande Inspetor Geral. Gould[13],
quando se refere à criação do R\E\
A\A\,
somente menciona a Grasse-Tilly, citando os norte-americanos marginalmente.
O terceiro Supremo Conselho criado no mundo foi o da Itália em 1805 por
uma patente que conferia poderes aos Grandes Inspetores Gerais Pyron, Renier e
Vital para instituir em Milão um Supremo Conselho da Itália. Convém salientar que Grasse-Tilly passou a semear
Supremos Conselhos por diversos países.
O quarto Supremo Conselho foi também
criado em 1811 por Grasse-Tilly que fazia parte do estado-maior francês na
invasão napoleônica da Espanha. Assim em 4 de julho de 1811, o referido conde
criou um Supremo Conselho do grau 33 ao mesmo tempo que organizou a Grande Loja
Nacional sob a denominação de Grande Oriente das Espanhas e das Índias.
A seguir, segundo Naudon[14],
foram criados os seguintes Supremos Conselhos: 5º - Estados Unidos (jurisdição
norte) em 1813, 6º - Bélgica em 1817, 7º - Venezuela em 1824, 8º Irlanda em
1826, 9º Brasil em 1829 (Castellani[15]
considera, acertadamente, que a data da criação do nosso Supremo Conselho, não
seria esta da outorga da carta patente e sim 1832 quando foi realmente
implantado), 10º Peru em 1830, 11º Colômbia em 1833, 12º Haiti em 1836, 13º
Portugal em 1842, 14º Inglaterra e Gales em 1845, 15º Escócia em 1846, 16º
Uruguai em 1856, 17º Argentina em 1858, 18º Cuba em 1859, 19º México em
1860, 20º República Dominicana em 1861, 21º Turquia em 1861, 22º Egito em
1864, 23º Chile em 1870, 24º Paraguai em 1870, 25º Guatemala em 1871, 26º
Hungria em 1871, 27º Grécia em 1872, 28º Suíça em 1873, 29º Canadá em
1874, 30º Tunísia em 1880, 31º Romênia em 1881, 32º Equador em 1910, 33º
Iugoslávia em 1912, 34º Países Baixos em 1913, 35º Panamá em 1913, 36º Polônia
em 1922, 37º Checoslováquia em 1922, 38º Áustria em 1925, 39º Alemanha em
1930, 40º Bolívia em 1931, 41º Líbano em 1934, 42º Bulgária em 1936, 43º
Filipinas em 1950, 44º Itália em 1960, 45º El Salvador em 1960, 46º Nicarágua
em 1961, 47º Honduras em 1961, 48º Costa Rica em 1961, 49º Israel em 1966, 50º
Irã em 1970, 51º Finlândia em 1973, 52º Luxemburgo em 1976, 53º Marrocos em
1977, 54º Gabão em 1980 e 55º Camerum em 1981.
Como inexistisse um poder central que unificasse os Supremos Conselhos,
fazia-se necessário, com a crescente proliferação de Supremos Conselhos no século
XVIII e o surgimento de Supremos Conselhos espúrios, uma certa coordenação
que desse um mínimo de unidade de procedimentos.
A primeira tentativa, infrutífera, de criar uma união entre os Supremos
Conselhos foi o tratado de aliança concluído em Paris em 23 de fevereiro de
1834 no qual se fizeram representar os seguintes Supremos Conselhos: da França,
da Bélgica, do Brasil e um tal de Supremo Conselho Unido do Hemisfério
Ocidental, criado por um mulato de São Domingos - conde Roume de Saint-Laurent,
tendo tal Conselho desaparecido posteriormente.
A segunda tentativa de se tentar uma união e organização internacional,
antevista e abortada em 1834, foi o Convento que se realizou em Lausanne na Suíça
período de 6 a 22 de setembro de 1875, tendo como principais objetivos a revisão
e reforma das Grandes Constituições de 1786, a definição e proclamação de
princípios e a elaboração de um Tratado de Aliança e Solidariedade.
Onze Supremos Conselhos se fizeram representar neste Convento: Inglaterra
(e País de Gales), Bélgica, Cuba, Escócia, França, Grécia, Hungria, Itália,
Peru, Portugal e o anfitrião Suíça. A Escócia e a Grécia, ambas
representadas pelo mesmo Ir\
se retiraram antes do término dos trabalhos, fato que levou a assinatura dos
documentos finais a somente nove países. Os Supremos Conselhos dos Estados
Unidos (jurisdição sul), Argentina e Colômbia deram seu assentimento mas não
puderam mandar representantes. O do Chile mandou dizer que daria seu
assentimento às resoluções do Conclave.
Após numerosas reuniões de trabalho em comissão e onze sessões plenárias,
o Conclave foi encerrado em 22 de setembro de 1875.
Foram basicamente discutido os seguintes temas:
a) uma revisão das Grandes Constituições de 1786, retirando toda
referencia a Frederico II, tendo como base a versão latina, considerada como a
carta fundamental do R.E.A.A.;
b) a conclusão de um Tratado de União, de Aliança e de Confederação
dos Supremos Conselhos;
c) proclamação de um Manifesto solene;
d) uma Declaração de Princípios do Rito, nos quais os cinco primeiros
parágrafos forma incluídos no Tratado de Aliança;
e) adoção de um Monitor (Tuileur) Escocês, especificando para cada
grau do 1º ao 33º, as especificações sobre a decoração da Loja, os títulos
dos oficiais, os sinais de ordem e de reconhecimento, os toques, as baterias, as
aclamações, as marchas, as idades simbólicas, as palavras sagradas e de
passes, as jóias, painéis, alfaias, etc.
f) apresenta uma relação dos Supremos Conselhos regularmente
reconhecidos no mundo: Estados Unidos: Jurisdição Norte e Sul, Costa Rica,
Inglaterra, Bélgica, Canada, Chile, Cuba, Escócia, Colômbia, França, Grécia,
Hungria, Irlanda, Itália, México, Peru, Portugal, Argentina, Suíça, Uruguai
e Venezuela. O Brasil não aparecia na lista e segundo Prober “o S.C.BRAS., na
verdade um dos mais antigos do mundo, não figurava nesta relação dos 22 ‘reconhecidos’,
por certo uma represália por não ter participado”.[16]
A Ata da décima sessão faz menção à questão do reconhecimento do Brasil: o
Convento reconhece a existência de um Supremo Conselho no Brasil, mas como
existiam duas autoridades pretendendo este título, seriam enviados, pelo
Supremo Conselho da Suíça, os documentos para que ambas chegassem a um acordo.
Caso contrário, o assunto deveria ser remetido ao tribunal criado pelo artigo
VII do Tratado de Aliança para que pudesse ser julgado.
O artigo 3º do Tratado de Aliança e de Confederação estipulava que os
Supremos Conselhos se reuniriam em Convento geral em 1878 em Roma ou Londres e
de dez em dez anos a partir desta data. Contudo, como este Convento de Lausanne
não foi ratificado como previsto, somente em 1900, por iniciativa do Supremo
Conselho da França, que um novo mas modestíssimo Conclave se reuniu em Paris.
Novamente o Conclave, previsto para se reunir em Bruxelas em 1902, teve seu início
em 10 de junho de 1907, 32 anos após o Conclave de Lausanne, com o pomposo título
de Primeira Conferência Internacional
dos Supremos Conselhos. Depois deste Conclave é que se assiste às reuniões
regulares, somente interrompidas pelas duas guerras mundiais: a IIª Conferência
em Washington - 1912, a IIIª em Lausanne - 1922, a IVª em Paris - 1929, a Vª
em Bruxelas - 1935, a VIª em Boston - setembro de 1939, a VIIª em Havana -
1956, a VIIIª em Washington - 1961, a IXª em Bruxelas - 1967, a Xª em
Barranquilha na Colômbia - 1970, a XIª em Indianápolis nos EEUU - 1975, a XIIª
em Paris - 1980, a XIIIª em Washington - 1985, a XIVª no México - 1990, a XVª
em Lausanne - 1995 e a XVIª será no Rio de Janeiro em 2000.
E assim, os Supremos Conselhos se preparam para adentrar o século XXI. |