Rivista di Massoneria - Revue de Franc-Maçonnerie - Revista de Masonerìa - Revista de Maçonaria |
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MONOGRAFIAS MAÇÔNICASpelo Ven.Irmão WILLIAM ALMEIDA DE CARVALHO 33MAÇONARIA NO BRASIL:
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Introdução
Os estudos maçônicos universitários têm sofrido um incremento
substancial, principalmente na Europa. A França lidera essa nova safra de maçonólogos
(não necessariamente maçons) universitários, como se pode constatar pelo
trabalho de levantamento de Charles
Porset - Franc-maçonnerie, Lumières et Révolution,
Trente Ans d’Études et de Recherches. Na Inglaterra, a pesquisa universitária é extremamente precária, apesar
da criação de uma cadeira universitária maçônicas na Universidades de
Sheffield. Essa deficiência inglesa na pesquisa universitária é superada
pelos estudos e anais da primeira (1886) e maior loja de pesquisa maçônica do
mundo: a famosa Quattuor Coronati Lodge
de Londres. Os holandeses também criaram uma cadeira universitária maçônica
na Universidade de Leyde. Os norte-americanos dão a sua contribuição original
com o trabalho de Steven C. Bullock – Revolutionary
Brotherhood, Freemasonry and the Transformation of the American Social Order,
1730-1840 – e os escoceses com o livro do não-maçom David Stevenson – The
Origins of Freemasonry. Scotland´s Century, 1590-1710, traduzido
recentemente no Brasil pela Madraz. Numerosos trabalhos começam a aparecer na
Alemanha, Áustria, Itália, Espanha e na Bélgica.
Os pioneiros dos estudos universitários do fato maçônico na França na
década de 60 foram os maçons Pierre Chevalier, falecido em 1998 e Daniel Ligou,
atualmente aposentado da pesquisa maçônica.
Os estudos desbravadores de Augustin Cochin e François Furet
influenciaram muito a recente historiografia francesa sobre maçonaria.
As contribuições importantes de Ran Halévi sobre sociabilidade maçônica,
atualmente contestadas por Pierre-Yves Beaurepaire, que desponta como um dos
principais historiógrafos maçônicos nesse limiar do século XXI, não podem
ser desprezadas.
Em 2001 criou-se na França um Espace
de Recherches et d´Échanges Maçonnologiques – EREM, que tem agido como
uma verdadeira câmara de compensação de teses e estudos maçônicos. No
Brasil, nos nossos contatos com a Prof. Esther Bertoletti, criadora e gestora do
Projeto Resgate. A proposta do Projeto Resgate de recuperar no Arquivo Histórico
Ultramarino de Lisboa cerca de 300 mil documentos brasileiros referentes ao período
colonial, foi iniciada em 1995, apesar de já haver um levantamento sistemático
desde o final dos anos 80. Essa vasta documentação, organizada, catalogada e
amplamente disseminada, abre inúmeras possibilidades de pesquisas sobre o
Brasil Colônia. Projeto Resgate: (http://www.comciencia.br/reportagens/501anos/br02.htm)
O projeto vem sendo desenvolvido com a colaboração de uma centena de
pesquisadores, além de diversas instituições públicas e privadas brasileiras
e portuguesas. No Brasil, entre alguns dos envolvidos, o projeto mobilizou três
Ministérios: o da Cultura, que investiu cerca de US$ 1 milhão através de três
modalidades, orçamentária, lei de incentivo fiscal e fundo de cultura; o da
Educação, que contribuiu por intermédio das universidades; e o da Ciência e
Tecnologia, através do CNPq. Além de diversas secretarias de estado, pelo
menos 4 fundações de amparo à pesquisa também participaram: as do Rio Grande
do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Calcula-se que o montante de
investimento direto e indireto já atingiu cerca de US$ 2,5 milhões,
provenientes tanto do setor público como privado, do Brasil e de Portugal.
Os documentos, lidos, decifrados, microfilmados e digitalizados, num
trabalho conjunto entre pesquisadores portugueses e brasileiros (de vários
estados), datam dos séculos XVII e XVIII e tratam da vida pública e privada
dos habitantes das 18 capitanias, que atualmente correspondem a 22 estados. A
Fundação Biblioteca Nacional do Ministério da Cultura ficou responsável por
preservar os microfilmes e por duplicá-los para serem disseminados. Este
trabalho pode ser realizado graças à experiência e domínio da tecnologia de
microfilmagem desenvolvida desde 1975 pelo Plano Nacional de Microfilmagem de
Periódicos Brasileiros coordenado e implantado por Esther Caldas Guimarães
Bertoletti, atual coordenadora técnica nacional do Projeto Resgate.
Segundo a coordenadora, o projeto está praticamente concluído
"pois o que falta significa 0,5 % de tudo o que foi feito". A previsão
é de que em dezembro de 2001 seja finalizado o último trabalho - cerca de 350
caixas de documentos referentes a Capitania do Rio de Janeiro. "Mais de
2000 caixas, mais de 300.000 documentos, quase 3 milhões de páginas
manuscritas foram lidas, relidas, microfilmadas, transferidas para o Brasil e
hoje estão quase totalmente disponíveis", comemora Esther.
Em cada estado, cujo trabalho se concluiu, os arquivos públicos
armazenam, para disponibilização, os rolos de microfilmes que durarão pelo
menos 200 anos. Todas as universidades que possuem cursos de História e/ou Ciências
Sociais e Institutos Históricos Estaduais receberam os CD-ROMs que reproduzem
os microfilmes e os catálogos com os índices dos documentos. As instituições
portuguesas que participaram do projeto também receberão toda a documentação
catalogada e microfilmada. Além destes resultados, o projeto ainda prevê que,
após a conclusão do trabalho no Rio de Janeiro, todos os verbetes estarão
disponíveis em um site, no próprio Arquivo Histórico Ultramarino. A
informatização dos verbetes e a possibilidade da criação de uma base de
dados comum, possibilitará a realização de pesquisas cruzadas, em todos os
documentos das 18 capitanias. O Projeto Resgate II
Os 300.000 documentos em papel permanecem no Arquivo Ultramarino e
representam 80% dos documentos referentes ao período colonial que se encontram
no exterior. Ainda existem outros 20 % espalhados em outros arquivos e
bibliotecas portuguesas e nos demais países com os quais o Brasil teve maior
ligação no passado colonial: França, Itália, Espanha e Holanda. Com relação
a estes documentos estão sendo concluídas as pesquisas para a publicação de
guias para indicar quais são e onde estão os documentos relativos ao Brasil,
espalhados por mais de 200 instituições fora de Portugal.
O primeiro guia a ser editado é o dos Arquivos Holandeses, sob a
responsabilidade do editor pernambucano Leonardo Dantas Silva, da Editora
Massagana, da Fundação Joaquim Nabuco. Até julho sairá do prelo, em Madrid,
o Guia dos Arquivos Espanhóis, editado sob a responsabilidade da Fundacion Histórica
Tavera, uma instituição privada espanhola especializada em levantamento e
publicação de instrumentos de referência de documentação histórica. O Guia
dos Arquivos Franceses está concluído, e deve ser publicado no segundo
semestre, assim como o Guia dos Arquivos Italianos.
Este último, está dividido em dois: um guia que dará informações de
todos os arquivos situados fora de Roma, e outro com as informações dos
arquivos existentes na cidade de Roma. O Arquivo Secreto do Vaticano também terá
documentos microfilmados, a partir de uma pesquisa realizada pelos portugueses,
financiada pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos
Portugueses (CNCDP), que elaborou verbetes indicativos dos documentos relativos
ao Brasil.
Todo este trabalho de elaboração de guias dá as bases para uma segunda
etapa do Projeto Resgate, na qual os documentos indicados serão microfilmados.
O trabalho de recuperação dos documentos do período colonial deve avançar até
2008 - data emblemática em que o Brasil deixa de ser colônia de Portugal para
ser a própria sede do Reino de Portugal. "Não se recupera trezentos anos
de história em cinco-seis anos. É um trabalho demorado e deve ser feito de
forma completa, definitiva. Uma vez organizado e microfilmado, ficará para
sempre preservado.", diz Esther Caldas Bertoletti. Projeto Reencontro
Um desdobramento importante do Projeto Resgate é o surgimento do Projeto
Reencontro, coordenado pelo Centro Damião de Góis, no âmbito da Comissão
Bilateral Luso-Brasileira para a Salvaguarda e Divulgação do Patrimônio
Documental. Com este projeto, os pesquisadores portugueses começaram a
microfilmar, nos arquivos brasileiros, os documentos de interesse para Portugal
relativos ao período joanino (1808-1822), que corresponde à permanência da
corte de Dom João VI no Brasil, e ao período do Império. "A identificação
dos documentos coloniais e do período joanino existentes no Brasil são muito
importantes e interessantes , pois complementam os documentos existentes em
Portugal", afirma Bertoletti.
Segundo ela, o projeto já microfilmou quase 400 rolos e prossegue
recuperando os documentos que foram aqui produzidos ou que vieram para o Brasil
- por compras realizadas por pesquisadores ou autoridades brasileiras nos leilões
na Europa. Também foram microfilmados documentos existentes nas coleções
particulares que hoje encontram-se nos arquivos, bibliotecas e museus
brasileiros. Em contrapartida, assim como fez o Projeto Resgate, o Projeto
Reencontro também está ajudando as instituições brasileiras a organizarem e
microfilmarem esses documentos. Discute-se
agora a possibilidade de criar-se um Fundo Maçônico na Biblioteca Nacional no
Rio de Janeiro para reunir todos os manuscritos e documentos atinentes à maçonaria
brasileira num só local a exemplo da Biblioteca Nacional da França. O fundo maçônico
francês recebeu, quando da implosão do império soviético, centenas de caixas
de manuscritos e documentos da ex-KGB russa de peças pertinentes ao Grande
Oriente de França. Tais documentos ficaram disponíveis aos pesquisadores a
partir de 2001.
As Ciências Sociais não possuem telescópio nem microscóspio para
analisarem a sua realidade. Superam tal diferenciação em relação às ciências,
ditas exatas, para atuarem no contexto científico através da criação e
lapidação de conceitos. Conceitos potentes e claros iluminam a realidade
pesquisada e trazem avanços científicos; conceitos obscuros e inconsistentes são
inúteis para analisar a realidade estudada e pesquisada. Popularmente se diz
que a “teoria na prática é outra” significando que os conceitos utilizados
não conseguem explicar a realidade. II- O Conceito de Sociabilidade
Um conceito que o mundo acadêmico internacional, e ultimamente o
bra-sileiro, utiliza para analisar a maçonaria é o de sociabilidade.
Proposto pioneiramente pelo historiador francês Maurice Agulhon no seu livro
seminal lançado em 1966 esgotado 15 anos depois, agora clássico na sua
terceira edição de 1984, Pénitents et Francs-Maçons de l´Ancienne Provence (Penitentes e
Franco-Maçons na Antiga Provence).
Agulhon define a sociabilidade como a maneira como os homens vivem suas
relações interpessoais e se inserem nos seus diversos entornos, não
caracterizando somente psicologias individuais. Varia com o meio social, muitas
vezes com o país e certamente com as épocas. Grupos inteiros podem ser
coletivamente sociais, ou mais sociais que outros: os parisienses mais que o
pessoal do interior, os operários mais que os camponeses, os homens do século
XVIII mais que os do século XVII etc. Enfim, estudar sociologicamente a maçonaria
como um fato
social, ou seja, uma forma de
coerção sobre os indivíduos que é tida como uma coisa exterior a eles, tendo
uma existência independente e estabelecida em toda a sociedade, que é
considerada então como caracterizada pelo conjunto de fatos sociais
estabelecidos. Paul Leuilliot tinha proposto isto desde 1953 nos Annales.
Agulhon reconhece também que o sociólogo alemão Georg Simmel já tinha
escrito Sociologia da Sociabilidade (Soziologie der Geselligkeit) em 1911,
mas que só veio a tomar conhecimento desse escrito na década de 80. Assim como
Norberto Elias escrevera o seu lapidar Über
den Prozess der Zivilisation em 1939 (traduzido no Brasil em 1993 como O
Processo Civilizador) sobre o processo civilizatório que tem certo parentesco
com o conceito de sociabilidade e que, também só veio a tomar conhecimento em
meados da década de 70.
A maçonaria seria um dos grupos sociais, assim como os inúmeros salões
de café, clubes, academias, sociedades literárias, que teriam introduzido, na
Europa do século XVIII, um novo comportamento em pleno Estado Absolutista.
Agulhon vai estudar esse novo comportamento na Provence que incluiria desde as
confrarias religiosas até, e principalmente, as lojas maçônicas.
Dois outros intelectuais alemães deram a sua contribuição nessa
discussão sobre sociabilidade e espaço público. O historiador Reinhardt
Kosseleck e o filósofo Jürgen Habermas. Reinhart Koselleck escreveu em 1959 um
clássico: Crítica e Crise. Este clássico só viria a ser traduzido no Brasil
40 anos depois em 1999. Pelo segredo, as lojas maçônicas representavam uma
nova forma de poder burguês no qual a própria burguesia começou a corroer o
Estado Absolutista por dentro. Jürgen Habermas no seu clássico Mudança Estrutural da Esfera Pública contribuiu de maneira
insofismável para aclarar o conceito de espaço público. Kosseleck e Habermas
usam a construção do século XVIII de um novo espaço público como um verdadeiro prisma para lançar luz sobre a
nova sociabilidade. Os maçonólogos universitários utilizam essa plataforma
conceitual para realçar o papel que a maçonaria desempenhou na construção
dessa mesma sociabilidade.
Essa sociabilidade urbana, maçônica, Beaurepaire chama de sociabilidade
em mutação, será o apanágio da maçonaria no século XVIII europeu. No
Brasil, esse conceito buscará orientar as pesquisas de nossos historiadores,
agora no início do século XIX, de como essa nova forma de sociabilidade
concorreu para a independência do país, as novas pautas políticas, o
constitucionalismo no primeiro e segundo império, a luta contra os monopólios
eclesiásticos dos cemitérios, a filantropia, a nova educação mais laica etc.
III- Produção Científica Brasileira sobre Maçonaria
Os estudos universitários brasileiros sobre maçonaria, como tema específico
de análise, eram escassos até recentemente. As teses universitárias, se e
quando focavam a presença da maçonaria na história do Brasil, eram, na
maioria das vezes, genéricas, fragmentadas, dispersas e unilaterais. Fora dos
meios acadêmicos e universitárias, a historiografia maçônica, quando tratada
por maçons ou anti-maçons, na maior parte das vezes, acarreta discussões pró
ou contra, eivada de preconceitos, que não concorrem para melhorar o nível do
debate. Assim, o avanço da historiografia maçônica, no Brasil, está sendo
elaborado por historiadores não-maçônicos.
O tema maçonaria apresenta, no Brasil, alguns percalços ou entraves que
devem ser evitados ou superados: i) falta de tradição no meio acadêmico e
universitário, fato que concorre para tornar o tema inédito; ii) fascínio do
tema por estar envolvido em mitos, “visões conspirativas da história”,
concepções e preconceitos pré-íluministas que dificultam uma abordagem mais
serena e profissional dos fatos e iii) falta de acesso dos pesquisadores aos
famosos e, muitas vezes inexistentes, arquivos maçônicos.
Os historiadores acadêmicos brasileiros são imprensados entre os
trabalhos historiográficos dos maçons e dos anti-maçons que, muitas vezes,
primam pelo escasso valor teórico-metodológico. Buscam, como reação natural,
encontrar os conceitos operacionais e a pesquisa empírica para o estudo da maçonaria
mais no exterior do que no Brasil. A França surge, assim, como o porto
conceitual e de pesquisa para onde velejam os pesquisadores brasileiros
universitários.
O Congresso de Historiografia Maçônica (COHISMA) visa abrir um espaço
para que os historiadores acadêmicos – na sua maioria não-maçons -possam
discutir suas teses entre si. Além disso, concorrerá para trazer a cultura maçônica
brasileira para dentro da Universidade, principalmente na área da pesquisa
historiográfica. À médio prazo, estimular a mudança de patamar teórico-metodológico
entre os historiadores maçons. Procura-se agora registrar os trabalhos acadêmicos, principalmente os mais recentes, sobre o estado da arte da pesquisa universitária sobre maçonaria no Brasil.
Bibliografia Universitária Básica Sobre Maçonaria
A- Produção Brasileira:
ANDRADE,
Alex Moreira, Maçonaria no Brasil (1863-1901): Poder, Cultura e Idéias, Tese de
Mestrado em História, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de
Janeiro, 2004.[o resumo da obra pelo autor afirma que esta dissertação analisa
a maçonaria brasileira na segunda metade do século XIX. A pesquisa envolveu
seu pensamento político (especialmente quanto a direitos civis relacionados à
religião e à escravidão), sua cultura política (concernentes à memória, à
história e tradições) e os interesses materiais que tinham ao aderir à maçonaria.
A pesquisa também apresenta o voto dos maçons no Congresso e dados biográficos
dos principais líderes da instituição. A pesquisa também apresenta a maçonaria
como uma instituição com estratégias políticas e um pensamento político.] AZEVEDO,
Célia M. M. de, Maçonaria: História e Historiografia, Revista da USP.
n.32, p. 178-189, São Paulo, 1996-97. [um dos primeiros trabalhos acadêmicos
a enfocar a influência da maçonaria na história do Brasil. “O ponto de
partida deste artigo, portanto, é o problema da perda de visibilidade da maçonaria
na história do Brasil. Para começar a elucidar este problema, percorremos, em
primeiro lugar, alguns dados da maçonaria e sua história no Brasil; em segundo
lugar, vamos examinar os modos de abordagem da maçonaria por parte de três
historiadores cujos trabalhos imprimiram tendência duradouras na historiografia
do Brasil monárquico. São eles: Francisco Adolfo de Varnhagen, Manuel de
Oliveira Lima e Caio Prado Jr.; e em terceiro lugar, veremos os novos rumos da
historiografia ocidental sobre a maçonaria, assinalados em particular pelas
contribuições recentes de Margaret C. Jacob, historiadora dos Estados Unidos”
(Azevedo:180)] BARATA,
Alexandre Mansur, Luzes e Sombras: a Ação da Maçonaria Brasileira
(1870-1910), Ed.Unicamp, Campinas, 1999.[livro pioneiro, pois durante
as últimas décadas do século XIX e os anos iniciais do século XX, a Maçonaria
brasileira constituiu-se na principal e mais estruturada organização no que
dizia respeito à necessidade de se instituir uma sociedade mais secularizada.
Nesta perspectiva, este livro analisa a atuação dos maçons, bem como a
singularidade da “sociabilidade maçônica”. Segundo Célia M.M. de Azevedo,
no Prefácio desse livro, “três aspectos chamam a atenção, particularmente
neste livro. Em primeiro lugar, é de se destacar o pioneirismo deste trabalho,
uma vez que se trata de pesquisa de mestrado defendida em 1992. Até onde pude
constatar em um levantamento inicial das fontes sobre a história da Maçonaria
no Brasil, poucos se interessaram sobre isso até o momento, não obstante os
muitos e significativos indícios legados pelos intérpretes da história do
Brasil no século XIX, como Francisco Adolfo Varnhagen, Manuel de Oliveira Lima
e Caio Prado Jr. Com exceção de algumas teses acadêmicas defendidas nos anos
1940 e outras poucas surgidas nos últimos dois ou três anos, o leitor
interessado em conhecer a história da Maçonaria dispõe até o momento somente
da literatura produzida por historiadores maçons, muitas vezes impregnadas de
um tom celebrativo e pouco convincente. Mesmo assim, esta literatura produzida
dentro do recorte isolacionista de “estudos maçônicos” é de difícil
acesso para os leitores não pertencentes à Maçonaria. A venda destes livros
é, em geral, vedada aos chamados “profanos”. Há ainda a literatura antimaçônica
cujo estilo agressivo e preconceituoso permite entrever a profundidade das
rivalidades e disputas políticas e pessoais em torno dessa história. Trata-se,
em suma, de uma história muito falada, mas pouco pesquisada.
Em segundo lugar, o grande feito desse livro é trazer à cena a Maçonaria
atuante nas últimas décadas do século XIX e início do século XX. Para isso,
o autor contrariou expressamente a tradição historiográfica que, através de
algumas referências passageiras, parece conferir importância à atuação dos
maçons somente durante o processo de luta pela emancipação política de
Portugal no início do século XIX. Com base em extensa
e cuidadosa pesquisa, Alexandre comprova que a Maçonaria teve uma atuação
expressiva no período de 1870 a 1910, engajando-se nos mais diversos debates
intelectuais e destacando-se como um grupo de pressão política em defesa da
abolição da escravidão, da separação entre Igreja e Estado e da
universalização do ensino primário com ênfase na inclusão da mulher e das
classes populares. Ao mesmo tempo, o autor deixa claro que a Maçonaria jamais
constituiu uma ordem homogênea e monolítica. Embora desejosa de fundar uma
fraternidade universal a partir do exemplo dado pela conjugação de esforços
fraternos das suas lojas, a Maçonaria vivenciou graves conflitos internos
decorrentes de diferenças ideológicas, a exemplo da ruptura entre maçons
republicanos e monarquistas, liderados respectivamente por Joaquim Saldanha
Marinho e pelo visconde do Rio Branco.
Em terceiro lugar, este livro é prova suficiente de que é possível
pesquisar a Maçonaria. Uma das perguntas mais freqüentes ouvida por todo
aquele que ouse pesquisar a Maçonaria, sem ser maçom, é quanto à
possibilidade de se encontrar fontes primárias maçônicas. Apesar do
fechamento dos arquivos da Maçonaria no Brasil aos chamados pesquisadores
“profanos” – o que, diga-se de passagem, constitui um triste contraste com
a Maçonaria em países como os Estados Unidos, França e Holanda -, Alexandre
demonstra que é possível localizar inúmeros documentos maçônicos em
diversas bibliotecas públicas do país. Através da sua pesquisa, podemos
visualizar a expansão das lojas maçônicas a partir dos anos de 1870 e a sua
efervescência social e cultural, exprimindo-se na fundação de hospitais,
sociedades beneficentes e escolas em muitos estados brasileiros.
Por estes motivos e outros mais que o leitor certamente encontrará ao
longo destas páginas, é de se esperar que este livro instigue não somente
novas pesquisas sobre o assunto, como também uma reflexão sobre o silêncio
instaurado pela historiografia acadêmica em torno da história da Maçonaria no
período de constituição da nação brasileira” (Barata, 1999:15)] BARATA,
Alexandre Mansur, Maçonaria, Sociabilidade Ilustrada e Independência (Brasil,
1790-1822), Dissertação de Doutorado, Unicamp, Campinas, 2002.[quem
se entusiasmou com a tese de mestrado de Alexandre Barata, não pode deixar de
entoar loas a esta tese de doutorado. Aqui encontramos um Alexandre mais maduro
e profundo já trabalhando competentemente com o conceito de “sociabilidade maçônica’.
Segundo ele, o objetivo desse trabalho foi o de “analisar a inserção da
sociabilidade maçônica no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, na virada
do século XVIII para o século XIX, procurando identificar: os principais
mecanismos de recrutamento dos seus membros; sua organização; as motivações
em torno do pertencimento à maçonaria; as relações entre maçons e as
autoridades portuguesas, tanto seculares quanto eclesiásticas; as conexões
existentes entre os maçons dos dois lados do Atlântico. Tais questões visam
melhor compreender a progressiva politização do espaço maçônico, sobretudo,
no período que antecedeu a Independência, marco primeiro da construção do
Estado Nacional brasileiro” (Barata, 2002:3)] COLUSSI,
Eliane Lucia, A Maçonaria Gaúcha no século XIX, EDIUPF, Passo Fundo,
1998.[Colussi inicia a montagem do mosaico da maçonaria brasileira a partir das
peças estaduais analisando a maçonaria gaúcha, especialmente na segunda
metade do século XIX, num enfoque de história política e cultural. Afirma que
“assim, percorremos caminhos em torno dos principais acontecimentos, processos,
instituições e personagens da história do Rio Grande do Sul daquele período,
buscando responder aos questionamentos acerca da importância ou da influência
da instituição maçônica naquele contexto. A nova história política abriu múltiplas
possibilidades de relações e interpretações em torno do objeto de análise.
A abordagem permitiu que viessem à tona temas vinculados à forte presença
e oposição da Igreja Católica no cenário da segunda metade do século XIX na
sua relação com os defensores do pensamento liberal e cientificista,
especialmente os integrantes da maçonaria. Além desse, enfatizamos o grupo maçônico
nos diversos espaços sociais onde ele se encontrava no espaço da pólítica
institucional e não institucional, nos espaços culturais e educacionais e nos
espaços de filantropia.
Tão importante quanto as ações maçônicas nesses espaços é a
constatação de que a loja maçônica se constituía num dos únicos espaços
de sociabilidade, exclusiva das elites e dos homens, no período em questão. Em
outras palavras, numa sociedade de pouquíssimas opções de lazer para os
homens (eram eles, via de regra, que podiam usufruir dos espaços públicos), os
templos maçônicos eram locais onde eles se reuniam para os banquetes, para as
festas, para o debate político, para a polêmica filosófica, etc.”(Colussi:10)] COSTA,
Frederico Guilherme. A Maçonaria e a Emancipação do Escravo, ed.
Trolha, Londrina, 1999.[o autor é um dos raros maçons brasileiros com
titulação acadêmica na área historiográfica. Na apresentação de seu
trabalho, outro também raro historiador maçom – Ricardo Gonçalves –
assegura que “assim, tendo optado por trabalhar a questão da influência da
Maçonaria no processo de emancipação do escravo em nosso país, não se
contenta o nosso historiador em fazer uma insípida enumeração de fatos, nomes
e datas. Coloca ele uma hipótese de trabalho e se dispõe a prová-la, através
da análise de documentos primários, colhidos uns nos arquivos, obtidos outros
através da cooperação de pesquisadores maçônicos espalhados por todo o país
que o ajudaram encaminhando-lhe atas de Sessões de Lojas e outros documentos inéditos...
...Além disso, seguindo os passos de Maurice Agulhon, historiador francês da
École des Annales que se ocupou da Maçonaria em seu trabalho monumental Pénitents
et Francs-Maçons dans l´Ancienne Provence, insere nosso pesquisador a História
Maçônica na História da Sociabilidade, definindo a nossa Ordem como uma
instituição alternativa de sociabilidade que se desenvolveu a partir do início
do século XVIII e atuou desde então como um dos principais canais de difusão
do pensamento liberal e ilustrado (ou iluminista), tendo sido um dos sustentáculos,
em nosso país, desse projeto de eliminação lenta e gradual da escravatura,
cuja inspiração se encontra exatamente na Filosofia das Luzes”.] GONÇALVES,
Ricardo Mário, A influência da Maçonaria nas Independências
Latino-Americanas, in COGGIOLA, Osvaldo (org), A Revolução Francesa e
seu Impacto na América Latina, ed. Nova Stella-ed. Usp, São Paulo, 1990.[outro
raro historiador maçom com formação acadêmica. Neste seu artigo, Gonçalves
afiança que “é um lugar comum repetido por muitos historiadores a afirmação
de que a influência da Maçonaria sobre os movimentos de independência
latino-americanos – do Brasil, inclusive – foi muito grande. Caio Prado Jr.,
por exemplo, na Formação do Brasil Contemporâneo, afirma que a Maçonaria se
incumbiu de propagar no Brasil a filosofia dos enciclopedistas e que seu papel
é bem mais amplo do que aquele que se lhe atribui no movimento de independência.
Mas quando mergulhamos no estudo da História Maçônica as coisas começam a
ficar pouco claras. Surgem inúmeras questões em que consiste, afinal de contas,
a Franco-Maçonaria? Ela é uma corrente monolítica de pensamento ou apresenta
sub-correntes com tendências diversas de pensamento? Em que medida, afinal,
podemos falar de uma influência maçônica nas revoluções liberais?
Ao ensaiar os primeiros passos rumo a possíveis respostas a essas questões,
somos levados a uma primeira constatação: a existência de um sério
descompasso entre a historiografia “profana” e os estudos históricos
produzidos por maçons. Hoje em dia seria exagero referir-se
à Maçonaria como uma sociedade secreta. Permanece ela, porém, sendo
uma organização extremamente discreta. Os arquivos de suas lojas, quando
existem, geralmente não estão ao alcance de pesquisadores profanos. Daí o
fato da maior parte dos historiadores dispor de poucas informações sobre o
assunto e se limitar e repetir velhos lugares comuns sem se aprofundar na temática.
Por outro lado, os maçons que se dedicam a estudos históricos sobre a Ordem
geralmente não são historiadores profissionais, o que faz com que a
historiografia maçônica seja, de uma maneira geral, de baixa qualidade, não
ultrapassando o nível de história factual e muitas vezes apresentando informações
errôneas, baseadas em documentação falsa e espúria aceita sem nenhuma crítica”
(Gonçalves 1990:195). GONÇALVES,
Ricardo Mário (org), Quintino Bocaiuva Nº 10: a Trajetória de uma Loja Maçônica
Paulistana (1923-1998), Arquivo do Estado – Imprensa Oficial, São Paulo,
1998.[aqui, Gonçalves traça a trajetória da centenária Loja Quintino Bocaiúva
no. 10. Confessa suas dificuldades iniciais, pois, “a primeira diz respeito a
minha própria formação, voltada para a História Antiga, para a História
Oriental e par a História das Religiões, não tendo eu nenhuma experiência de
trabalho em História recente de nosso país. A segunda está no fato de ser eu
um novato na Loja, onde ingressei por filiação em março de 1995. Parecia-me
então ser uma grande presunção, para não dizer arrogância, encarregar-me de
fazer a História da Loja, quando existem na mesma tantos IIr. veteranos
dedicados que viveram essa História de forma intensa como uma porção
extremamente significativa de suas vidas. Entretanto, desde 1989, quando
apresentei uma comunicação sobre A Influência da Maçonaria nas Independências Latino-Americanas no
Simpósio Internacional A Revolução
Francesa e seu Impacto na América Latina, realizado pelo Departamento de
História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, vinha eu
ensaiando meus primeiros passos como historiador maçônico. O amplo interesse
despertado por minha comunicação entre os alunos me havia animado, inclusive,
a criar um Programa de Introdução à História da Franco-Maçonaria, que
ministrei como matéiria do Curso Optativo de História das Instituições até
minha aposentadoria de 1995. Sentia, portanto, ser para mim um verdadeiro dever
de ordem moral a aceitação da incumbência” (Gonçalves 1998: 13). MOREL,
Marco, As Transformações dos Espaços Públicos – Imprensa, Atores Políticos
e Sociabilidades na Cidade Imperial (1820-1840),
Ed. Hucitec, São Paulo, 2005. (Tradução da Tese de Doutorado, La
Formation de l’Espace Public Moderne à Rio de Janeiro (1820-1840),
Opinion, Acteurs et Sociabilités, Tese de Doutorado. Université de
Paris I, 1995).[mais um trabalho que utiliza a categoria de sociabilidade maçônica.
Francisco Falcon, no Prefácio do livro de Morel, constata que “o autor tem
como cenário a cidade do Rio de Janeiro, entre 1820 e 1840, englobando assim o
clímax do processo de independência e as peripécias do liberalismo tupiniquim.
Seus eixos teóricos são dos mais conhecidos e respeitáveis: Habermas e
Kosseleck, Rosanvallon, Chartier e Roche, Agulhon e Farge; como elemento
integrador da perspectiva da história política e do papel do sujeito histórico
Morel destaca a contribuição de François-Xavier Guerra...
...Talvez o que mais se destaca neste livro venha a ser o tipo de
abordagem utilizado e a proposta de enfocar a dinâmica dos espaços públicos
do ponto de vista da questão das sociabilidades, uma temática ainda
relativamente nova e pouco freqüentada na nossa historiografia. A partir dessas
coordenadas mais gerais, desenvolvem-se as três partes da obra: I- As palavras;
II – Os atores políticos – intelectuais e opinião pública; III – As
diversas formas de sociabilidade, com ênfase nas maçonarias.
Na primeira parte, Morel analisa com riqueza de pormenores o papel do
livreiro-editor francês Pierre Plancher. Fazendo uso dos minuciosos relatórios
diplomáticos franceses e de outros papéis por ele localizados em arquivos
parisienses, nosso historiador esmiúça a noção de “novas idéias”’ e
tenta conhecer melhor as identidades políticas
e as formações político-partidárias cambiantes. Como curiosidade,
sublinhe-se a variedade das metáforas zoológicas então comuns e o recurso às
imagens de monstros e às monstruosidades no debate exacerbado entre Exaltados,
Moderados e Restauradores.
Na segunda parte, o objetivo é de identificar e analisar os que seriam
“os construtores de opinião”, cujo perfil coletivo na cidade do Rio de
Janeiro tem como referência as transformações dos espaços públicos, tendo
em vista aí o surgimento da opinião pública como instrumento de legitimação
política. Vale notar aqui a habilidade com que Morel aborda a sempre difícil
questão da realidade de uma nobreza
cultural, ao mesmo tempo que define melhor a idéia d o Rio de Janeiro como
cidade imperial, sem no entanto esquecer-se das relações intensas entre o Rio
e a Bahia. Como uma de suas muitas originalidades documentais, o texto inclui
rico acervo cartográfico que o autor localizou em instituições francesas.
Talvez não menos interessante seja a maneira como o autor descreve e analisa as
trajetórias da chamada nobreza cultural,
enfocando a figura do jornalista/panfletário (redator ou gazeteiro), assim como
a diferenciação que estabelece entre os intelectuais presos à tradição
iluminista, mais conservadores, e os propriamente liberais ou patriotas,
mais radicais.
Ao tratar, na terceira parte, das formas de sociabilidade, Morel atinge,
no nosso modo de entender seu trabalho, o ponto decisivo de sua exposição. De
fato, ele reúne aí tanto as manifestações populares – manuscritos, gritos
e gestos – como a questão das lojas maçônicas e oferece assim ao leitor um
dos textos mais atualizados e completos a respeito das origens, organização,
funcionamento e composição social e política das diversas maçonarias. Na
realidade, houve a preocupação de reunir, num visão globalizante das agitações
políticas da época tratada, os chamados papéis
incendiários, a nova função dos teatros como espaços de manifestações políticas,
e as diferenças ou divisões entre os maçons, criando assim um retrato animado,
dinâmico, do Primeiro Reinado e do Período Regencial.
Nas considerações finais
Morel tenta articular as três partes do trabalho em busca do que ele denomina
de contextura dos espaços públicos”(Morel,
2005:9)] MOREL,
Marco, Sociabilidades entre Luzes e Sombras: Apontamentos para o Estudo Histórico
das Maçonarias da Primeira Metade do Século XIX, Estudos Históricos, n.28,
Rio de Janeiro, 2001/2.[artigo extraído dos capítulos 8 e 9 da tese de
doutorado acima do mesmo] NEVES,
Berenice Abreu de Castro, Intrépidos Romeiros do Progresso: Maçons
Cearenses no Império, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do
Ceará, Fortaleza, 1998. [“Este trabalho procura discutir a ação política e
social de maçons cearenses nos anos setenta do século XIX. Em decorrência da Questão
Religiosa, deflagrada em 1872, os maçons de todo o Brasil lançam-se na
arena pública em defesa das idéias liberais ilustradas. No Ceará, é a loja Fraternidade
Cearense e o seu jornal, Fraternidade,
que estarão na vanguarda desse movimento.
Entre os membros da loja encontravam-se comerciantes, profissionais liberais e
membros da camada governante local. Os segmentos cultos da Maçonaria local
ocuparam-se durante três anos, através do Fraternidade
e de outros espaços, como o das irmandades religiosas, na defesa da liberdade
de consciência, de abolição da “ignorância” do povo pela disseminação
da educação e da laicização da vida. Nessas bandeiras, procuraram ainda
combater a interferência da Igreja Católica nas várias esferas da vida social
e, ao mesmo tempo, garantir o lugar dos maçons e da Maçonaria na sociedade.
Como pano de fundo, procuro ainda compreender o que significava a loja maçônica
para a sociedade cearense no Império. Tento examinar, desse modo, o papel que
representou a loja macônica como reduto de preparação da participação de
segmentos que tiveram marcante atuação na sociedade, na política e na cultura do Ceará”(Berenice:XI). RAMALHO, José Rodorval, Novae
sed Antiquae: Tradição e Modernidade na Maçonaria Brasileira, Tese de
Doutorado, PUC, São Paulo, 2004.[“o objetivo central deste trabalho é
descrever e analisar a combinação de valores tradicionais e modernos promovida
pela Maçonaria, procurando compreender os significados dessa “fusão de
horizontes” na reprodução institucional da ordem maçônica. Para isto,
analisa-se o funcionamento da mais antiga federação maçônica brasileira, o
Grande Oriente do Brasil, a partir da descrição de sua estrutura geopolítica
e administrativa, indicando a distribuição das Lojas no território nacional,
a estrutura dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário), os
fundamentos do federalismo maçônico, o funcionamento do sistema obediencial e
as organizações paramaçônicas de jovens e mulheres. Promove-se também uma
breve incursão histórica tentando localizar as origens da maçonaria moderna,
sua chegada ao Brasil, sua participação em episódios importantes no século
XIX e sua atuação como um espaço de sociabilidade iluminista. Em seguida,
analisa-se as Leis e Princípios Maçônicos, expressos na legislação da
insituição, segue-se descrevendo parte do universo simbólico, ritualístico e
hierárquico da Maçonaria, o que envolveu a apresentação do templo maçônico,
dos três graus simbólicos, o significado dos nomes das Lojas e as principais
formas hierárquicas nos três graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e
Aceito. Finalmente, analisa-se algumas formas de solidariedade maçônica, sua
concepção e operacionalização a partir de iniciativas filantrópicas
voltadas para a comunidade em geral. Concluí-se que a combinação dos dois
universos de valores (tradicionais e modernos) é o núcleo do processo de
reprodução institucional maçônica, e o que torna possível essa combinação
é a atitude reflexiva dos indivíduos maçons. O resultado desse processo é
uma instituição ambivalente, homóloga à Modernidade” (Ramalho:06). SILVA, Eliane Moura, Maçonaria, Anticlericalismo e Livre Pensamento
no Brasil (1901-1909), Comunicação apresentada no XIX Simpósio Nacional
de História – ANPUH, Belo Horizonte, 1997.[Silva afirma que a componente
inseparável da História das Idéias desde o início do século XIX aos dias
atuais, a história da Maçonaria, do anticlericalismo e do livre pensamento é
também a da cultura, da religião, da educação e do poder na sociedade
contemporânea. Sistemas característicos de idéias e teorias, o
anticlericalismo e o livre pensamento organizaram-se, em diferentes períodos,
como movimentos específicos de feições particulares, sobretudo no final do século
XIX e inícios do XX, articulando-se em primeiro lugar com tendências políticas
liberais e radicais tais como o anarquismo e o socialismo e em seguida, com a Maçonaria
e com correntes espiritualistas.
Desde meados do século XIX, os movimentos de livre pensamento e
anticlericalismo marcaram profundamente a sociedade contemporânea. A crise das
religiões cristãs tradicionais, os avanços do pensamento materialista,
racionalista e científico, o surgimento de novas formas políticas de pensar o
poder, fizeram parte da difusão das idéias anticlericais e de livre
pensamento.] SILVA,
Marcos José Diniz, Lapidando a Pedra
Bruta: a Maçonaria na Organização de Artistas e Proletários Cearenses,
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2000. [Este
trabalho é o resultado final dos estudos de Marcos Diniz no Mestrado em
Sociologia da UFC, concluídos em 2000. Representa um esforço de compreensão
do processo histórico e de suas implicações sociológicas, numa cidade
sertaneja do semi-árido, nas três primeiras décadas do século XX,
sobressaindo-se a atuação organizacional maçônica no seio da classe
trabalhadora local. Para Diniz realizar este trabalho
contou com inestimáveis colaborações de muitos quixadaenses, de
ex-membros da Aliança Artística, de colegas de trabalho, de maçons de Quixadá
e de Fortaleza e de muitos que direta ou indiretamente contribuíram com alguns
fragmentos dessa história. Diniz levanta a fundação e a trajetória da Aliança
Artística e Proletária de Quixadá – AAPQ. A fundação da AAPQ dá-se no
contexto de ascensão da mobilização católica junto ao operariado de
Fortaleza, sobretudo após a fundação dos Círculos Operários em 1915.
Confrontava-se com a hegemonia maçônica já estabelecida e com o avanço das
mobilizações das esquerdas. Em Fortaleza, como veremos, as cúpulas da Igreja
Católica e da Maçonaria estabelecem ao longo dos anos de 1920 uma aliança tática
de oposição às esquerdas, sobretudo ao comunismo. Em Quixadá, no entanto, a
Aliança Artística defenderá uma postura solidária junto ao movimento operário
de esquerda e uma postura autonomista de caráter laico, e independente de
acordos com a Igreja Católica.
Para a análise da trajetória dessa associação de trabalhadores
quixadaenses, o autor fez uso sobretudo da documentação primária da própria
entidade configurada nas atas de sua reuniões (ordinárias, solenes, de assembléia
geral), nos Estatutos da entidade, fotografias, monumento, relatos de memórias
de lideranças dos trabalhadores quixadaenses vinculados à entidade,
entrevistas, bem como obras de historiadores locais e referências em jornais
cearenses do período. A documentação disponível, em sua maioria primária,
da própria Aliança, permitiu um maior detalhamento de muitos aspectos dos
discursos e práticas aliancistas num recorte temporal compreendido entre as décadas
de 1920 e 1930, permitindo maior explicitação do cotidiano dos trabalhadores
aliancistas, germinativo de uma consciência e de uma proposta de intervenção
social. O período referido é significativo para a compreensão do processo de
fundação e estruturação da entidade, de sua fase “legionária”,
resultante de sua filiação à Legião
Cearense do Trabalho - LCT e, finalmente, da afirmação de sua orientação maçônica.
Para a análise dessa dinâmica, optou por estruturar este trabalho em
quatro capítulos. No primeiro capítulo caracterizo a atuação da Maçonaria
brasileira, sobretudo entre final do século XIX e as primeiras décadas do século
XX, investigando a emergência da “questão social” como elemento de afirmação
da identidade maçônica brasileira, impressa em suas concepções sobre o
trabalho, o trabalhador e o socialismo. Por fim, as manifestações concretas
dessa proposta social da Maçonaria no Ceará, através do Centro Artístico
Cearense e
demais associações.
No segundo capítulo analisa o surgimento da Aliança Artística e Proletária,
buscando a caracterização social de seus membros e principais líderes, de seu
modelo organizacional e de suas relações com as sociedades congêneres e com
outras correntes do movimento operário. Merece destaque também a percepção
do quadro contextual quixadaense que, por suas especificidades, concorreu de
modo favorável para a difusão das idéias e práticas sociais maçônicas a
partir daquela entidade.
No terceiro capítulo discute a denominação aliancista de “resistência
e benefício”, analisando sua perspectiva previdenciária e de intervenção
intelecto-moral junto ao trabalhador, através da educação laica, do
disciplinamento dos costumes e de suas atividades cívico-culturais e filantrópicas.
Procura também caracterizar as representações do trabalho construídas em
seus discursos e iconografia, em que se destaca a permanência do ideário
iluminista e revolucionário francês, acrescido de elementos filosóficos da
matriz positivista em que a ordem, configurada na disciplina intelectual, moral
e social, aparece como um dos elementos fundantes do progresso.
No quarto e último capítulo, procura situar mais especificamente o
quadro de disputas internas envolvendo maçons e integralistas pelo comando da
associação, no contexto das mudanças de ordem político-ideológicas que
caracterizaram a década de 1930. Instaura-se
nesse contexto a polêmica sobre a manutenção do caráter beneficente e a
fidelidade às tradições da “oficina”, defendido pelos aliancistas maçons,
apoiados pela Maçonaria local através da Loja “Deus e Universo”; ou sua
adesão ao modelo sindical-corporativista defendido pelos elementos aliancistas
sintonizados com Legião Cearense do Trabalho, com a Liga Eleitoral Católica e
com a orientação trabalhista do Estado varguista. Finalizo esse capítulo
discutindo os elementos que confirmam a manutenção e consolidação da orientação
maçônica da Aliança Artística e Proletária de Quixadá.] SOUZA,
Françoise Jena de Oliveira e, Vozes Maçônicas na Província Mineira
(1869-1889), Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2004. [mais um tijolo no mosaico maçônico estadual
brasileiro aplicando-se o conceito de sociabilidade, pois a presente dissertação,
no dizer da autora, trata da maçonaria mineira entre os anos de 1869 e 1889,
período de consolidação da instituição na província. Buscando contribuir
como processo de renovação dos objetos e abordagens da Nova História Política,
tomou-se a maçonaria como um dos
importantes espaços de sociabilidade existentes na época e que no qual, para
além dos círculos oficiais do poder, os homens faziam política. Neste
sentido, analisou-se o lugar
ocupado e o papel desempenhado por esta instituição em Minas Gerais, o perfil
de seus membros e a maneira como, através da elaboração de variados e, por
vezes, divergentes discursos impressos, maçons e maçonaria estabeleceram diálogos
com os acontecimentos da época, dentre os quais destaca-se a romanização, a
Questão Religiosa, o crescimento do protestantismo, a abolição da escravidão
e propaganda republicana.] SOUZA,
Patrícia Inês Garcia, Buscadores do Sagrado: As Transformações da Maçonaria
em Belém do Pará, Tese de Doutorado em Ciências Sociais, Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP,
Campinas, São Paulo, 2006.[“A presente tese investiga as transformações da
maçonaria na cidade de Belém do Pará, dando ênfase aos aspectos relacionados
à religiosidade. Para tanto, faz um levantamento histórico dos embates da
instituição na cidade e de sua presença, relevando também a forma como se
deu a constituição de um campo maçônico. Em seguida, para comprovar a existência
desse campo, destaca os lugares em que um maçom compõe sua identidade, a
partir de um habitus, o da instituição.
Essa conserva suas próprias leis e modos de funcionamento e de transformação,
admitindo transformações internas dentro de limites. Se a reprodução de um habitus
constitui o maçom, lugares como a ritualística agenciam diversos lugares de
interesse, produzindo-se assim vários tipos de maçons. Para comprovar tal fato
descreve-se o ritual de iniciação ao grau de aprendiz, do Rito Escocês Antigo
e Aceito, que é quando o indivíduo começa a conhecer a instituição, dando
início à incorporação de um habitus
e a inscrição desse como uma pessoa particularizada – um maçom – que então
passa a fazer parte de uma comunidade. Mas nem todos vivem essa ritualização
desse modo, na cidade, não passando por nenhuma performance transformadora e
colocando em questionamento os significados da instituição. As reações a
esse estranhamento são variadas. E então os lugares de interesse que enformam
a instituição entram em crise, a partir de uma crise dos próprios maçons,
tornando-se lugares de incerteza – um campo de embates. Esses embates se vêem
mais intensificados com o surgimento de uma maçonaria mista na cidade, segmento
considerado “espúrio” pela maçonaria “regular”, que, além de dar
entrada às mulheres no ritualismo maçônico, também surge para recuperar um
“espírito tradicional maçônico” que julga estar perdido pela maçonaria
regular, em inter-relação com o espiritismo kardecista. A invenção dessa maçonaria
rompe com os limites estabelecidos. Para se compreender esse processo, faz-se
uso do conceito de Das, de evento crítico. Em seguida, se abordam duas trajetórias
pertinentes para se traduzir o processo de transformação local da maçonaria:
a etno-biografia do fundador da maçonaria mista e, do mesmo modo, a de um maçom
considerado uma estrela do esoterismo contemporâneo na cidade, pois concentra
redes de relações pessoais que interconectam a maçonaria com o movimento do
esoterismo. Por fim, se explora o termo “buscadores do sagrado” – termo êmico
recolhido durante a pesquisa, tradutório de embates internos locais da maçonaria”]. TELLES,
Marcus Vinicius, A Influência da Maçonaria na Independência do Prata (as
Relações da Maçonaria Platina com a Brasileira), Dissertação de
Mestrado, Universidade Federal Fluminense, 1977.[“tenta-se demonstrar nesta
monografia a origem da Maçonaria moderna, iniciada na Inglaterra no princípio
do século XVIII, bem como a sua doutrina, que era o liberalismo econômico,
social e político. Esta doutrina foi transmitida aos homens da América através
das Lojas maçônicas, tanto na Europa, como no continente americano. Por outro
lado, vê-se a instituição das primeiras lojas na América do Norte, Sul e
Central, bem como, sinteticamente, o quadro em seus aspectos sócio-econômicos
e políticos, no qual se inseriu a Loja Lautaro.
Também se aprecia a influência da Loja Lautaro na vida política do
Prata, e, como resultante desta ação, a instalação da Assembléia
Constituinte do ano XIII e do Congresso de Tucuman, do qual resultou a Independência
de 1816. Outrossim ressalta-se a participação dos maçons nestes
acontecimentos, como, por exemplo, San Martín, Alvear, Monteagudo, Pueyrredon e
outros. Outro aspecto relevante foi a participação do Clero nas lides maçônicas
e na Emancipação.
Por outra parte, tenta-se demonstrar o que foi a ligação dos maçons
platinos com os brasileiros, facilitada pelo vínculo maçônico, sendo que um
grupo de platinos trabalhou no Rio de Janeiro para efetivar uma das idéias de
libertação, que era fazer a Princesa Carlota Joaquina Regente do Vice-Reinado
do Prata. Por outro lado, os brasileiros enviaram emissários a Buenos Aires em
pelo menos dois movimentos. E, ainda, outros influenciaram o movimento da
Emancipação platina, através de seus escritos, como Hipólito da Costa, por
meio de seu jornal, “Correio Braziliense”. Outrossim, brasileiros
participaram das lojas argentinas quando exilados do Brasil, como, por exemplo,
Gonçalves Ledo, visto frequentemente em companhia de Alvear, em Buenos Aires,
depois do exílio deste no Rio de Janeiro. Também tenta-se demonstrar a influência
da Inglaterra nos fatos referentes à Emancipação das antigas colônias ibéricas,
o exílio dos próceres da Emancipação e a escolha da forma republicana pelos
membros da Maçonaria sul-americana” (Telles:125).] VÉSCIO,
Luiz Eugênio, O Crime do Padre Sório: Maçonaria e Igreja Católica no Rio
Grande do Sul (1893-1928), EDUFSM, Santa Maria; EDUFRGS, Porto
Alegre, 2001.[em 1899, numa estrada que cortava uma região de imigração
italiana no Rio Grande do Sul, alguns homens atacaram o padre do lugar, que
voltava a cavalo para sua igreja. Derrubaram o padre e o espancaram no baixo
ventre, sangrando-lhe os testículos. Ele agonizou durante três dias, não
declarou o nome de seus agressores e morreu em conseqüência dos ferimentos. Não
foi instalado precesso-crime para investigar o caso. Anos depois, os padres
historiadores passaram a dizer que o sacerdote fora um homem santo, agredido
pela Maçonaria. Durante décadas, ninguém contestou esta versão, embora todos
os idosos da região murmurassem que o padre andava com mulheres e,
principalmente, que havia uma donzela “ofendida” por ele. E que os
familiares da moça, num certo dia, resolveram dar uma lição ao homem. Essas
duas versões – a dos padres historiadores e a da tradição oral – sempre
dialogaram, mas nunca se entenderam. O atentado ao padre teria relação com os
conflitos entre a Igreja Católica e a Maçonaria, existentes no Europa e no
Brasil no século XIX e início do XX? Esta disputa entre a Cruz e o Compasso
expressara-se de modo violento no interior do Rio Grande do Sul? E a memória
coletiva a respeito das “aventuras” do padre, seria verdadeira? Responder a
estas questões seria o objetivo do livro. José de Andrade Arruda, no prefácio
do livro em questão, relembra que “o trabalho encerra, portanto, uma proposta
metodológica e teórica inovadora, além de oportuna. Num momento em que a nova
história, emparedada no discurso narrativo e descritivo, dá sinais de
esgotamento, vislumbra-se uma alternativa profícua que busca o enlace entre
descrição e análise, entre narração e reflexão, entre micro e macro-história,
entre representação e conceituação, entre sensibilidade e análise racional.
Esta postura atravessa o texto e se revela na própria urdidura da obra no seu
conjunto, que nasce pontual, de uma problemática gestada a partir de um evento
local, précorrendo a problemática ampla do conflito histórico entre católicos
e maçons, retraçando suas origens medievais, ambientado em clima periférico,
no mundo da ex-colônia, deslocando-a, a seguir, para o círculo regional, num
momento decisivo de sua trajetória, no âmago da formação do Estado na Velha
República para, finalmente, volver ao pontual, ao evento em si,
ressignificando-o, tranferindo ao episódio singular um densa carga de potencial
explicativo” (Véscio:14)] VIEIRA,
David Gueiros, O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no
Brasil, Ed.UnB, Brasília, 1980.[um dos livros pioneiros no tratamento acadêmico
da maçonaria no Brasil apesar de não focalizar a maçonaria como objeto específico
de análise. Gilberto Freyre na apresentação do livro ressalta a condição de
autêntico scholar universitário e
que durante mais de 10 anos estudou os assuntos de que trata no livro. Gueiros
relata que o ano de 1850 foi o escolhido como ponto de partida do estudo, porque
foi nesse ano que o tráfico de escravos da África conheceu oficialmente o fim.
Marca também o ano em que, por carência de mão-de-obra, recrudesceu a demanda
de imigração branca. Mais ainda, : assinala o ano em que milhares de
norte-americanos começaram a dirigir-se à Califórnia por via marítima,
seguindo a rota do Estreito de Magalhães, com parada obrigatória no Brasil.
Esse movimento migratório ocasionou o estabelecimento de uma “Capelania de
Marítimos” no Rio de Janeiro, e a chegada de James Cooley Fletcher, que pelos
vinte anos seguinte envolveu-se intimamente com a facção maçônico-liberal do
Brasil e com o estabelecimento aqui de postos missionários protestantes.
Ressalta ainda que “aspecto significante deste estudo não é, creio, a
verificação que a facção conservadora católica brasileira,
“ultramontana”, como era chamada, objetivasse à imigração e à propaganda
protestante, ou à legislação que permitia ocorressem livremente. Preconceitos
intransigentes e discriminação eram práticas comuns aos católicos tanto
quanto aos protestantes em toda a Cristandade. O Partido Know-Nothing
nos Estados Unidos da América, o chamado “’Movimento Anti-Tractariano” na
Inglaterra e a Kulturkampf na
Alemanha, são exemplos de discrimes protestantes, que até hoje anacronicamente
ecoam na Irlanda do Norte entre os Ian Paisleys e os chamados “protestantes
radicais”. Na realidade, o aspecto digno de nota da história deste período
é a existência num país técnica e educacionalmente atrasado, como o Brasil
do século dezenove, de tantos católicos liberais de projeção, lutando
denodadamente pelo direito dos acatólicos de entrarem no país. De praticarem
livremente o seu culto e de gozarem dos direitos civis iguais aos dos católicos
brasileiros” (Vieira:13)] VIEIRA,
Maria Elisabete, O envolvimento da Maçonaria Fluminense no Processo de
Emancipação do Reino do Brasil (1820-1822), Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2001.[a autora afirma que o tema
deste trabalho versa sobre o envolvimento da maçonaria fluminense no processo
de emancipação política do reino do Brasil, entre os anos de 1820 e 1822.
Buscou-se demonstrar a forma que ela se envolveu e em que momento este
envolvimento contribuiu na escolha das opções políticas implementadas pela
elite local da época. As fontes e a bibliografia utilizadas na construção
deste trabalho são de origem maçônica, composta por materiais reproduzidos
pela própria Ordem ou publicações cujos trabalhos foram realizados por maçons,
bem como pelas produções historiográficas oriundas da academia ou de outros
centros de estudo. Com base no material mapeado para este trabalho pode-se
perceber que o envolvimento da maçonaria fluminense neste momento da história
do Brasil iniciou pelo “fato” dela ter-se constituído em um importante espaço
de discussão e elaboração frente à conjuntura política do período. Esta
mobilização das loja fluminenses em torno de questões políticas estava
relacionada aos interesses individuais e coletivos de seus membros, bem como a
um princípio filosófico da Ordem, qual seja, o ‘’aprimoramento dos
povos”.] Bibliografia
sem Comentários: ANDRADE,
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